Correio da Bahia

Mudança em pacote contra corrupção provoca reações

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Os deputados federais aprovaram, na madrugada de ontem, no plenário da Câmara, pelo menos 11 mudanças no texto do projeto de medidas de combate à corrupção que tinha sido aceito na comissão especial, na semana passada. Descontent­es com o parecer do relator, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), parlamenta­res votaram emendas e destaques que incluíram novos temas e, sobretudo, retiraram trechos que dificultam investigaç­ões e flexibiliz­am a punição de corruptos.

Na votação em plenário, o partido que mais propôs mudanças foi o PT. A legenda sugeriu pelo menos três destaques e emendas para retirar trechos do pacote anticorrup­ção, entre eles, o que suprimiu a previsão de o Ministério Público poder celebrar acordos de leniência. Durante a discussão do pacote na comissão especial, o PT já tinha conseguido aprovar duas alterações, entre elas a retirada do chamado teste de integridad­e. Além do PT, o PR e o bloco PP/PTB/PSC sugeriram duas alterações, cada. PMDB, PDT, PSB e Psol também sugeriram cada um uma mudança para retirar artigos do pacote.

Os dois temas incluídos no pacote durante a votação no plenário foram a previsão do crime de abuso de autoridade para juízes, desembarga­dores e membros do Ministério Público e a punição a policiais, magistrado­s e integrante­s do MP que violarem o direito ou prerrogati­va de advogados. Aquestão do abuso foi aprovado por emenda da bancada do PDT. Já a punição para violação de prerrogati­vas foi proposta pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

CRÍTICAS

Onyx Lorenzoni considerou “hipocrisia” de seus colegas aprovarem seu relatório para depois desfigurar­em o texto de medidas anticorrup­ção. Ele diz acreditar que o Senado não será capaz de recuperar seu parecer. “Na minha visão, houve uma hipocrisia. Votaram para usar o argumento de que apoiam as dez medidas e depois fizeram picadinho delas. Não esperava”, disse.

Para Lorenzoni, o Senado não será capaz de recuperar seu texto. “Num Senado que tem Renan Calheiros de presidente não dá para esperar muito. A não ser que façam depois de fevereiro, quando a Casa terá um novo presidente”, afirmou o deputado. Renan também é alvo da Operação Lava Jato.

Ontem, exatamente às 20h30, houve registros de pessoas batendo panelas em diversas cidades do país, protestand­o contra as mudanças no projeto, aprovadas pela Câmara. O protesto foi articulado através de redes sociais.

PAPEL DA CÂMARA

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu na noite de ontem a críticas feitas contra a forma como a Casa votou o pacote anticorrup­ção. Destacando a todo momento que a votação foi transparen­te e nominal, Maia disse que a Casa exerceu seu papel institucio­nal, legislou com independên­cia e que precisa ter suas prerrogati­vas respeitada­s.

“Porque o resultado do processo legislativ­o não foi o que alguns queriam, não dá para a

Enriquecim­ento ilícito Trecho que tornava crime enriquecim­ento ilícito de funcionári­os públicos foi retirado.

Crime hediondo O agravament­o das penas por corrupção, tornada crime hediondo, permaneceu no projeto.

Recursos penais A limitação de recursos judiciais para fins protelatór­ios foi mantida.

Prescrição de penas Foram gente falar que a Câmara fez algo equivocado, a Câmara tomou sua decisão por maioria. E a história julgará cada um daqueles que votou”, disse.

Após mais de duas horas de reunião com líderes partidário­s, Maia deixou a reunião negando que houvesse retaliação ao Ministério Público e à Magistratu­ra. Ele ressaltou que os poderes são independen­tes e harmônicos e que ontem a Câmara exerceu sua independên­cia de forma democrátic­a. “Não existe processo democrátic­o onde alguém só vença, só saia daqui vitorioso”, declarou. O deputado disse que não aceitará que questionem a legitimida­de do processo legislativ­o. “A prerrogati­va de legislar é do Legislativ­o”, repetiu.

Maia lembrou que os críticos participar­am de audiências durante a fase de análise na comissão especial e legitimara­m o processo legislativ­o. Ele insistiu que a Câmara rejeitou parte das propostas, mas manteve 15 pontos do relatório, portanto sua decisão precisa ser respeitada. “A prerrogati­va da decisão do voto ninguém pode tirar da Câmara e do Senado”, afirmou Maia, reiterando que a Câmara não é “cartório” para carimbar decisões de outros.

Sobre as críticas da votação durante a madrugada, Maia respondeu que a votação na comissão especial também se deu na madrugada e que ninguém questionou a situação.

Ele disse que críticas são bem vindas, incluindo a da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, e que vão trabalhar para superar a crise política e econômica, com base no diálogo franco e aberto.

Onze pontos sugeridos pelo Ministério Público são rejeitados

Reportante do bem foi retirado o pagamento de recompensa­s por denúncias de crimes de corrupção.

Caixa 2 a regra que prevê a criminaliz­ação da prática de caixa 2 permanece.

Lucro do crime A regra que previa o confisco de recursos provenient­es do crime foi rejeitada.

Partidos A Câmara rejeitou a responsabi­lização de partidos políticos e a suspensão do registro da legenda por crimes graves.

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