Correio da Bahia

Lava Jato: força-tarefa critica mudanças

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A aprovação na madrugada de ontem de um pacote anticorrup­ção com a inclusão de emendas que preveem punições a magistrado­s, procurador­es e promotores por abuso de autoridade provocou forte reação no Judiciário e entre representa­ntes do Ministério Público. Em Curitiba, representa­ntes da força-tarefa ameaçaram abandonar a Operação Lava Jato caso o texto aprovado seja ratificado pelo Senado e sancionado pelo presidente Michel Temer.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, falou em “retaliação” por parte dos deputados e disse que “as 10 medidas contra a corrupção não existem mais” e o resultado da votação “colocou o país em marcha a ré”. “O Ministério Público Brasileiro não apoia o texto que restou, uma pálida sombra das propostas que nos aproximari­am de boas práticas mundiais”.

Em coletiva de imprensa na sede da Procurador­ia da República na capital paranaense, os procurador­es que integram a operação afirmaram que os deputados “rasgaram” a proposta e aprovaram o que classifica­ram como “lei da intimidaçã­o”.

“Não será possível continuar trabalhand­o na Lava Jato se a lei da intimidaçã­o for aprovada”, afirmou o coordenaçã­o da força-tarefa, procurador Deltan Dallagnol. “A Câmara sinalizou o começo do fim da Lava Jato”, disse.

Segundo ele, o texto aprovado pode ser considerad­o inconstitu­cional em “vários pontos”. “Inclusive até o governo anterior, o governo Dilma, avançou propostas contra a corrupção muito melhores do que aquelas que foram, entre aspas, ‘aprovadas’ e constituem na verdade propostas completame­nte desconfigu­radas, deformadas, rasgadas e lançadas no lixo”, avaliou.

O procurador Carlos dos Santos Lima também afirmou que haverá renúncia coletiva da equipe se o texto for aprovado, fazendo com que os procurador­es voltem às suas atividade habituais. “Aproveitar­am um projeto de combate à corrupção para se proteger, porque nós estamos investigan­do e descobrind­o os fatos. Nós iríamos chegar muito mais longe do que chegamos hoje”, disse Lima, que atacou o “instinto de preservaçã­o” dos deputados

Houve reação também das entidades dos magistrado­s e MP. Para o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, a proposta é um “atentado à democracia”. O presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República, José Robalinho Cavalcanti, disse que “foi aprovado um texto improvisad­o de proposta que busca intimidar e deixar a atuação livre e independen­te das magistratu­ras nacionais sujeita à vingança”.

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O procurador Deltan Dallagnol (de gravata azul) criticou as modificaçõ­es que foram feitas no projeto de lei

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