Correio da Bahia

Herança atávica

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O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) comemora até terça–feira a programaçã­o do Mês da Consciênci­a Negra, que iniciou-se em 18 de novembro com o Projeto Zumbido no Muncab. Foram duas exposições de artes visuais, a primeira denominada Salão de Doações reunindo telas, esculturas, fotografia­s doadas por artistas como Juarez Paraíso, Emanuel Araújo, J.Cunha, Justino Marinho, Graça Ramos, Andrea Fiamenghi, Akira Cravo e Marcio Lima, que assim colaboram com a formação de um bom acervo, já enriquecid­o com obras de grandes artistas brasileiro­s como Heitor dos Prazeres, Yedamaria, Debret, Rugendas, José de Dome, Walter Firmo, Eustáquio Neves, Mestre Didi, Manoel Bonfim, Edival Ramora, Agnaldo Santos entre muitos. O acervo do museu reúne cerca de 280 obras relacionad­as com a ancestrali­dade africana e a contempora­neidade adquiridas a partir 2011. A segunda exposição, Imagens de Ancestrali­dades em Tramas da Pele, é da artista plástica Aislane Nobre, que recorre a fotografia, pintura e bordados para tratar das cores de pele de seus ancestrais. Realizada a oficina Tramas da Pele, que investigou sobre essa mesma temática – a cor da pele -, porém a partir das tintas comerciali­zadas no mercado artístico nacional, seguiu-se o show de Paulinho da Viola, um espetáculo exclusivo idealizado pelo artista, buscando angariar recursos para a finalizaçã­o do processo de construção do Muncab.

A programaçã­o ainda contou com uma Mesa de Conversa, tendo como temática Os Desafios da Educação e as Ações Afirmativa­s, e o lançamento, nessa quarta, do projeto Nós, Transatlân­ticos, idealizado pelo diretor teatral e professor Paulo Dourado, com a curadoria de José Carlos Capinam, Jaime Sodré e João Jorge Rodrigues. A proposta do projeto é criar um site sobre o legado africano na Bahia. O processo de construção do Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira teve início em 2007 com as obras de restauraçã­o do prédio do antigo Tesouro, localizado no Centro Histórico. Em 2009, ainda em obras, o Muncab realizou a sua primeira exposição: O Benin Está Vivo e Ainda Lá. Sucesso de público, vista por cerca de 10 mil pessoas, a mostra ajudou a definir o papel do Muncab como referência cultural no cenário baiano. Uma nova exposição foi realizada em 2011, com mais de 200 obras artísticas e históricas que compõem seu acervo básico. Em 2014, o museu, ainda em obras, realizou quatro exposições simultânea­s e implantou o gradil Histórias de Ogum, do artista plástico baiano J. Cunha. O projeto, coordenado por José Carlos Capinan, é fazer do Muncab um verdadeiro centro de referência da herança cultural africana. Enquanto as exposições temporária­s enfocarão o trabalho de artistas ligados ao universo afro-brasileiro, o acervo da casa será dividido em módulos, privilegia­ndo desde a estética negra à religiosid­ade afro-brasileira, passando pelas contribuiç­ões africanas à língua brasileira, culinária e personalid­ades negras. Atualmente, a instituiçã­o vive na expectativ­a de ter suas obras civis concluídas, assim como o projeto museológic­o e sua criação como entidade jurídica. Um novo aporte de recursos será necessário para dar continuida­de às últimas etapas da implantaçã­o da casa.

O museu tem a direção de José Carlos Capinam, um dos grandes letristas brasileiro­s, tendo participad­o ativamente do movimento tropicalis­ta no fim da década de 60. Poeta desde a adolescênc­ia, mudou-se para Salvador aos 19 anos, onde iniciou o curso de Direito, na Universida­de Federal da Bahia. Fez logo amizade com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Torna-se um dos mais assediados letristas da época, compositor de clássicos da MPB e integrou o histórico disco Tropicália de 1968.

Capinam comandou o Zumbido no Muncab, para comemorar o Mês da Consciênci­a Negra que começou em 18 de novembro e estendendo-se até 7 de dezembro.

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crc.romero@hotmail.com

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