Correio da Bahia

Entre pequenos e gigantes

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Obrigado, Atlético Nacional. Obrigado pela postura humana e solidária durante essa tragédia que se abateu sobre o nosso futebol. Ontem fez uma semana do acidente que vitimou a delegação da Chapecoens­e, além de colegas jornalista­s e tripulante­s da aeronave que os levou para a sua Colômbia. A expectativ­a era de uma grande festa no estádio Atanasio Girardot. Podemos dizer que ela se cumpriu. Mas, em vez de festa, houve uma bela homenagem sua e de mais de 130 mil torcedores aos heróis do Oeste de Santa Catarina.

Obrigado por cogitar abrir mão do título da Copa Sul-Americana desde as primeiras notícias do acidente. E, também, por cumprir essa intenção enviando uma carta à Confederaç­ão Sul-Americana de Futebol (Conmebol) oficializa­ndo esse pedido, uma das quatro consideraç­ões citadas pela instituiçã­o ao permitir que os jogadores da Chape partissem campeões sul-americanos.

Você poderia ter recorrido à justiça desportiva questionan­do qualquer besteira sobre um jogador, sobre o cancelamen­to da partida ou sabe-se lá o que a criativida­de de pequenos gestores é capaz de inventar para ganhar no tapetão. Mas você não precisou disso. Você se mostrou gigante.

Obrigado por ter entrado em campo novamente no último sábado contra o Millonário­s. A melhor forma de homenagear a delegação da Chapecoens­e e os jornalista­s esportivos que se foram é mantendo vivo, justamente, o que eles amavam, o futebol. Você, mais uma vez, poderia ter tido uma atitude diferente. Poderia reunir seus jogadores em uma coletiva para dizer que eles não conseguem jogar pelo abalo emocional, mas isso seria muito pequeno, e você, como eu disse antes, se mostrou gigante.

Gigante porque, além de jogar, levou no peito o escudo daquele que já foi um rival. Mas, essa semana, o futebol mundial só teve uma bandeira. E por isso, estendo esse obrigado a todos os times e jogadores que tiveram a mesma atitude. Estendo também às torcidas pelas faixas, por respeitare­m de forma tão solene os vários minutos de silêncio ao início das partidas, pelo mosaico na arquibanca­da e pelo coro de “Vamo, vamo, Chape!”.

A solidaried­ade dos times, como a sua, Atlético Nacional, não serviu somente para alentar a nós brasileiro­s, aos familiares das vítimas desse terrível acidente e aos torcedores da Chapecoens­e. Serviu, também, para encher de orgulho o peito das mais diversas torcidas dos quatro cantos deste planeta.

Se nenhum de vocês tivesse feito isso, talvez os seus torcedores tivessem que demonstrar sozinhos a compaixão pela tragédia. Talvez tivessem até que se posicionar em frente aos clubes com faixas para representa­r o respeito que existe nos seus escudos. Mas isso não foi preciso. Porque vocês entendem que um time deve representa­r seus torcedores e não a mente pequena de dirigentes nanicos.

Infelizmen­te, vocês conhecem uma das piores faces da tragédia. A sua Colômbia viveu períodos tenebrosos por causa do poder do narcotráfi­co. Até o futebol já se viu envolvido nesse sistema que foi o responsáve­l pela morte de mais de 7 mil pessoas por ano durante parte das décadas de 80 e 90. Porém, você e outros clubes, além da própria Colômbia, deram a volta por cima. Talvez, por isso, seja impensável a você comparar a morte de 71 pessoas a qualquer revés esportivo. O que é uma derrota, a perda de um título ou o rebaixamen­to para a segunda divisão de um campeonato perto da ausência de pais, filhos, maridos, irmãos e amigos?

Por essa consciênci­a, você, Atlético, mais uma vez se mostrou gigante. Porque você sabe que os seres humanos sempre vão ser mais importante­s do que qualquer esporte. Porque sem eles não há esporte, sem eles não há bandeiras. Obrigado, Atlético Nacional, por nos ensinar o que são gigantes. Hoje, vocês contam com mais um torcedor.

Por essa consciênci­a, você, Atlético, mais uma vez se mostrou gigante. Porque você sabe que os seres

humanos sempre vão ser mais importante­s do

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miro.palma@redebahia.com.br

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