Amor e sucesso
Em uma esquina do Hyde Park, bairro da zona sul de Chicago, local onde existia uma sorveteria cerca de 30 anos atrás, hoje há uma placa que celebra o lugar onde Barack Obama beijou Michelle Robinson pela primeira vez. E esse tipo de memorabilia pop, raramente dedicada a presidentes em exercício, dá a medida da iconografia construída em torno da família Obama.
O filme Michelle e Obama, dirigido pelo novato Richard Tanne, é mais uma peça no ‘case de sucesso’ que é o carismático casal que deixará a Casa Branca em janeiro. Mas que o público não espere conteúdo de uma biografia formal do presidente americano, como o publicado no livro A Ponte (Companhia das Letras).
Michelle e Obama conta uma história romântica: a do primeiro encontro entre Barack (Parker Sawyers, de A Hora Mais Escura), estagiário de 27 anos em um escritório de advocacia de Chicago e estudante de Direito em Harvard, e a já advogada Michelle (Tika Sumpter, de Salt), sua supervisora na firma, dois anos e meio mais nova, em uma tarde de 1989.
Num clima de paquera velada e constante, eles conversam pelas ruas do Southside; visitam um museu; participam de uma assembleia comunitária na qual Obama faz um longo discurso sobre persistência; falam sobre as respectivas famílias; assistem ao hoje clássico Faça a Coisa Certa, de Spike Lee; jantam; tomam sorvete; e, finalmente, se beijam.
O público acompanha tudo isso como se estivesse ao lado do casal naquele passeio de uma tarde inteira. Mais ou menos no estilo da trilogia de Richard Linklater iniciada com Antes do Amanhecer (1995). Ele está apaixonado, mas a moça resiste por diversos motivos. Ela sabe que haverá falatório se eles se envolverem – ela é a chefe dele, e o fato de ser uma mulher e negra já pesa sobre ela, fazendo com que seja testada o tempo todo. Por isso, Michelle precisa provar permanentemente sua competência.
Obama sabe de tudo isso, mas não desiste de tentar conquistá-la. O pretexto para o primeiro encontro é uma reunião numa igreja, onde será discutido um centro comunitário que ainda nem foi construído. Por debaixo do viés romântico, o diretor Richard Tanne, que também escreveu o roteiro, propõe uma discussão sobre questões pessoais, culturais, sociais e políticas, sobre a visão de mundo, bastante parecida deles. Uma espécie de planejamento do futuro construído pelo casal.