Correio da Bahia

24h Dois pedreiros são mortos e moradores denunciam policiais

- BRUNO WENDEL

JARDIM NOVA ESPERANÇA O luto ficou estampado ontem em muros e postes do bairro Jardim Nova Esperança após a morte do pedreiro Alan Tosta Pereira, 26 anos, e do amigo, também pedreiro, identifica­do como Marcos. As vítimas tinham saído de um bar e foram abordadas, por volta das 2h, perto da casa de Alan, no Novo Marotinho de Jardim Nova Esperança, às margens da Via Regional, por seis homens. Segundo testemunha­s, os tiros foram disparados por policiais militares do Pelotão de Emprego Tático Operaciona­l (Peto). Em protesto ao assassinat­o da dupla, um ônibus foi incendiado e teve fios de cobre roubados por um grupo de dez pessoas na tarde de ontem, na Via Regional - foi o 29º veículo depredado este ano na capital, segundo a Semob. O prejuízo era estimado em R$ 3 milhões no levantamen­to que apontava 24 coletivos queimados, em setembro. Ninguém ficou ferido. Testemunha­s disseram que seis PMs chegaram ao bar em um Voyage prata e duas motos padronizad­as. “Foi a polícia (quem matou). Eles não estavam fardados, mas só deu para identifica­r pelas motos. No bar, chegaram procurando por drogas, revirando tudo”, contou um morador, que preferiu não se identifica­r. Como nada encontrara­m, os policiais liberaram todos e saíram. Os moradores contaram ainda que Alan e Marcos foram surpreendi­dos, a cerca de 50 metros da casa de Alan, pelas mesmas pessoas que realizaram a primeira abordagem no bar. “Desta vez, eles foram revistados e estavam sem documentos, porque moravam no bairro”, contou um outro morador. Em seguida, houve a execução e as vítimas foram atingidas na cabeça. “Como não encontrara­m nada, inclusive os documentos, mandaram eles se ajoelhar e, em seguida, dispararam. Foram seis tiros no total”, relatou a testemunha. Depois dos disparos, os criminosos recolheram as cápsulas. “Pegaram a maioria, mas ficou uma, de pistola .40, que foi recolhida pela perícia”, complement­ou a testemunha. Em nota, a PM informou que policiais da 50ª Companhia Independen­te de Polícia Militar (CIPM/Sete de Abril) foram até o local para averiguar a denúncia de que dois homens haviam sido baleados. As viaturas já estavam nas proximidad­es fazendo rondas e abordagens preventiva­s contra o tráfico de drogas, segundo a nota, quando foram acionadas. “Os PMs retornaram ao local e encontrara­m dois indivíduos não identifica­dos, sem sinais vitais”, diz o texto. Em relação à denúncia de envolvimen­to de PMs no crime, a nota apenas informou que a Polícia Civil vai investigar a autoria e a motivação do crime e que as testemunha­s podem fazer o registro da denúncia de agressão na Ouvidoria da PM pelo 0800 284 0011, no site (www.pm.ba.gov.br - no link Ouvidoria) ou nos postos localizado­s no SAC do Shopping Barra, SAC Comércio e Quartel do Comando-Geral da PM, no Largo dos Aflitos. “A PM também dispõe da Corregedor­ia, que fica na Rua Amazonas, n° 13, Pituba”, finaliza a nota. Indignados com a morte de Alan, moradores escreveram a palavra “luto” em muros de casas, estabeleci­mentos comerciais, postes de iluminação pública e no local onde os dois rapazes foram mortos. “Ontem (anteontem), ele preparou uma laje e ia executar a obra no domingo (amanhã). Era um rapaz trabalhado­r e bastante procurado nas obras aqui na comunidade”, contou uma moradora. Alan morava com a mulher que está grávida de cinco meses. Nascido e criado no bairro, era conhecido desde pequeno pelo apelido de “Dufino”. Ainda de acordo com moradores, Alan era um rapaz tranquilo e não tinha envolvimen­to com a criminalid­ade. “Ele nunca foi preso, sequer se envolvia em brigas. O pai dele, já falecido, era um policial militar e a casa era como se fosse um quartel, de tão rígida a educação”, disse a moradora. O corpo de Alan será enterrado hoje, às 14h, no cemitério de Pirajá. Já Marcos era conhecido como Gringo e era natural de Amargosa, onde moram parentes. Ele estava em Salvador há dois anos.

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Após mortes, dez homens atearam fogo em um coletivo na Via Regional
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Alan Pereira foi uma das vítimas

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