Morre Ferreira Gullar
Que dizer de Ferreira Gullar, o intelectual livre do Brasil? Que dizer de um poeta que não tinha amarras, nem políticas nem literárias? Dizia, no Poema Sujo, que seu coração menino era um “combatente clandestino aliado da classe operária”. E, membro do Partido Comunista Brasileiro, lutou contra a ditadura e, preso e exilado por ela, foi fazer “bacharelado em subversão” na União Soviética. Mas quando percebeu que o socialismo não trouxe esperança ao mundo, foi em busca de outros sonhos. E no Brasil recente, quando percebeu que não havia sido a esperança, mas a corrupção que havia vencido o medo, pôs-se contra ela como um Quixote tendo nas mãos sua coluna na Folha de São Paulo. Tinha a coragem de criticar a arte conceitual e a tese de que a ideia por trás da obra é mais importante que a própria obra. E lembrava: “A obra de arte, ao contrário da expressão pura, necessita da elaboração de uma linguagem”. Mas não fazia apenas poesia, ou crítica de arte, fazia letras de músicas, escrevia novelas, crônicas e ainda fez um belo perfil sobre Nise da Silveira, a psiquiatra do Brasil. Ferreira Gullar é um exemplo do intelectual livre, que transita pelas diversas veredas do saber e que não se dá ao trabalho de prestar contas a ninguém, a não ser a sua consciência.