Irmãos siameses Parceria com Gilberto Gil
Amigos desde sempre, irmãos siameses, parceiros de alma. Caetano fala sobre Gil com um amor inquestionável: “Gil foi e é meu mestre desde que o vi na TV. Ficamos amigos apaixonados”. de Paulinha Lavigne (que a está empresariando e orientando). Foi uma conversa breve. Eu me queixava da neutralidade das interpretações dela, da falta de nuance e de entrega emocional. Quando fui ver o show, sentado na plateia, fiquei maravilhado com o que ela fazia junto ao violão de Carlinhos Sete Cordas - e com as mostras de inteligentíssimo aproveitamento das ideias surgidas na nossa conversa. Quando passamos a fazer um show duplo em conjunto pensado mais para divulgar o CD/DVD que foi lançado internacionalmente do Teresa Canta Cartola - começamos a ter muito mais tempo para conversar sobre música e tudo o mais. Teresa é uma grande pessoa. co, Canário e outros cujos nomes não me vieram à mente agora, todos fazendo experimentações com a base de samba-de-roda ou de chula que marcou essa entrada do samba no Carnaval da Bahia quando surgiu o Gerassamba que virou É o Tchan. Vi o filme Axé - Canto do Povo de um Lugar. Fico orgulhoso ter título de canção minha como subtítulo de um documentário sobre esse fenômeno que me apaixona desde quando ainda era um embrião. Mas a parte final do filme mistura certas queixas erradas com um fácil diagnóstico de decadência, sem mostrar o que há de importante no mundo da chula eletrificada. Ainda bem que Ivete desqualifica as queixas e Letieres Leite tem a lucidez de reconhecer que algo que chegou onde o axé chegou não morre mais. O repertório relevante do Carnaval carioca teve força massiva nacional dos anos 30 aos 60. Isso com a aprovação getulista do samba e a celebração permanente pela imprensa. O axé (que ganhou esse nome num dos gestos destrutivos dos seus inúmeros detratores) resistiu à neurose, ao desrespeito e ao pseudo-elitismo por mais de três décadas e ainda está aí, ajeitando sua convivência com certa aprovação social, refazendo o samba e canibalizando arrochas e sertanejos. Repassando na lembrança e vendo o filme, que é exuberante como o tema exige, fica difícil destacar personalidades sem encher toda a página do jornal com nomes e sem cometer injustíssimas omissões. Tomei coragem de tentar aprender a tocar violão com ele. Imitava as posições que ele fazia e ia entendendo as relações entre os acordes. Às vezes, perguntava uma ou outra coisa a respeito do sentido das harmonias. Mas só às vezes. Ele me ensinava por ser tão da música e estar tão perto. O show que fizemos juntos por mais de um ano resultou grandioso por causa disso. Quase não ensaiamos. Nem fizemos uma estrutura de show bem pensada. Estreamos inseguros. Mas o conteúdo real de nossa relação terminou por se sobrepor a tudo. Quando ele ficou doente (logo antes de nossa apresentação aqui em Salvador) fiquei muito preocupado. Mas depois que estive com ele e com alguns dos médicos que o acompanham, me tranquilizei mais. Quando ele teve de suspender o show de nossa volta ao Rio, depois de todas as viagens e descansos, voltei a ficar apreensivo. Fui à casa dele e de novo me tranquilizei. Faz pouco estive com ele numa festa e achei que ele estava muito bem, animado, falando muito, como de costume, conversando de pé. Fiquei feliz. Agora ouvi de Bem que ele está compondo bastante e já tem um bom número de novas canções. Eu, que não tenho composto nada há bastante tempo (a última música que escrevi foi Não Sei Amar, para a nora dele, Ana Claudia Lomelino, cujo disco já saiu há meses), fiquei maravilhado com a notícia. Gil é o gênio da grandeza musical que tomou conta do Brasil no final dos anos 1950 e que veio para tão perto de mim! Sem ele, eu não estaria fazendo música. Felizmente sim. Eu sou louco por Salvador e adoro vida de Verão. O Verão em Salvador é muito gostoso em janeiro: é o único mês que não tem chuva quase nenhuma (aqui chove muito o resto do ano todo), a cor do céu e do mar é deslumbrante, o ânimo das pessoas é gostoso, e tem a brisa.