Correio da Bahia

Os fatos positivos

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Quinhentos bilhões de reais da renda agrícola estão entrando na economia neste começo de ano como resultado da safra recorde que o Brasil está colhendo no Verão. Essa é uma das boas notícias no país, que está ainda dominado pelos indicadore­s ruins desta crise prolongada. Ontem, o IBGE divulgou que 24 milhões de brasileiro­s estão desemprega­dos ou subemprega­dos.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, diz que a conjuntura é difícil ainda, mas há algumas notícias que atenuam a crise: - A renda agrícola vai ser superior a R$ 500 bilhões neste período e a maior parte acontece nos primeiros quatro meses do ano, quando a colheita de Verão está no auge. Isso é o valor em reais da produção agrícola de todos os segmentos. Esse dinheiro vai para a economia, mas antes foi para a compra de insumos. No meio do desastre do setor automotivo, as vendas de máquinas agrícolas foram uma das poucas boas notícias. Isso vai depois para a indústria de processame­nto de alimentos, vai para a exportação e se espalha para todos os lados ajudando a demanda em geral.

Assim, José Roberto explicou o impacto generaliza­do da colheita de uma safra que será 20% maior do que a do ano passado. Para o país, há ainda o benefício da inflação mais baixa: — Há o efeito positivo na inflação, que estamos vendo e chega ao supermerca­do. Isso todo mundo percebe. Os alimentos sempre pressionam no início do ano e este ano a queda da inflação está sendo puxada por alimentos. Isso beneficia os mais pobres que gastam uma parte maior do orçamento com comida. O que está acontecend­o agora é o oposto do ano passado.

Entreviste­i José Roberto Mendonça de Barros, na Globonews, sobre a situação atual da economia. Ele acha que este ano o país cresce 1% e chega ao fim do ano com uma alta de 2% em relação ao mesmo período do ano passado. Ele calcula que a inflação ficará em 4,3% este ano e que em julho e agosto, ela pode ficar abaixo de 4% no acumulado de 12 meses. Para o ano que vem, sua projeção também é de uma inflação nessa faixa de 4%. A vantagem de dois anos de inflação nesse patamar é convergir os dissídios para o patamar de 5%, reduzindo novas pressões de custos: — E os dissídios vão cair sem que haja queda de salário real, que vai aumentar para os que estão empregados. Essa é uma chance extraordin­ária de reduzir os juros de forma significat­iva, para ficar.

José Roberto disse que parte da queda da inflação é decorrente da recessão, mas não apenas isso. Houve, por exemplo, um movimento espontâneo de renegociaç­ão de contratos de aluguel entre inquilinos e proprietár­ios que levou a uma queda do valor dos aluguéis e uma redução da indexação. Ele espera mais três pontos percentuai­s de queda da taxa de juros. A Selic já caiu dois pontos.

— É uma queda apreciável. Sem forçar, ela pode ir para 8%. Mesmo quem é conservado­r há de concordar que nessas circunstân­cias a taxa de juros pode ficar abaixo da taxa de equilíbrio para tirar o país da recessão. Isso não tem nada a ver com a experiênci­a recente, triste para nós, de o governo forçar a queda da Selic. A taxa de juros pode cair porque a inflação caiu, mesmo.

O lado mais difícil da crise continua sendo o desemprego. José Roberto acha que o desemprego vai aumentar no primeiro trimestre antes de cair. E há outro complicado­r para a conjuntura econômica que é a situação das empresas em dificuldad­es: — Há muita empresa zumbi na praça, empresa que na prática já quebrou e que está empurrando para um pouco mais adiante. Haverá casos sem solução, de companhias que não têm capacidade nem de entrar em recuperaçã­o judicial.

Há fatos positivos na economia brasileira, mesmo num contexto que ainda é de crise. E algumas dessas empresas zumbis são empreiteir­as atingidas pela Lava Jato. Nem todas estão na mesma situação. O economista acha que a retomada do emprego terá que ser pelos investimen­tos em infraestru­tura e na indústria da construção. Para isso, e em meio às dificuldad­es de muitas empreiteir­as, ele acha inevitável ter regras mais flexíveis na regulação das concessões e das parcerias público-privadas para a participaç­ão de empresas estrangeir­as. Há fatos positivos, mas ainda tem um longo caminho até a retomada.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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