Mais da metade da Bahia vive situação de emergência
O mandacaru deu flor, mas a chuva não veio. Chegou o dia de Santa Bárbara, em dezembro, e a trovoada não deu o ar da graça na zona rural de Santa Teresinha. Havia um fio de esperança dela chegar ainda em dezembro, no dia de Santa Luzia. Falhou de novo. Mais um desapontamento para os agricultores que assistiram o mês passar sem sinal de chuva. Janeiro e fevereiro também foram áridos. Só restava um milagre de São José. Não houve.
“O mandacaru está bem colorido, mas nada de chuva. O pessoal comenta que quando floresce é porque vem chuva. Dessa vez falhou. O pessoal estava com a terra pronta esperando a chuva de São José. Eu desanimei, perdi a esperança”, disse o lavrador Reinaldo dos Santos Oliveira, 35 anos. Presidente da Câmara de Vereadores de Santa Teresinha, Julival Oliveira Correia diz que a situação é crítica. “Mesmo desanimados, agricultores prepararam a terra. Tem lugar que está tão dura que não passa o trator.” A falta de água tem deixado populações aflitas. O problema é que há regiões em que não choveu ainda e não deve chover tão cedo. Segundo a metereologista Cláudia Valéria, do Inmet, no Centro-oeste do estado o período chuvoso coincide com o Verão. Já no Centro-leste, a chuva inicia em abril e vai até o Inverno. “As chuvas do Oeste deveriam ter começado em 2016. Já se passaram dois meses e meio de 2017. Ano passado foi deficiente, mas em 2017 teríamos mudanças. No Centro- oeste não resolveu, e o período chuvoso de lá já passou.”
O Centro-oeste contempla parte da Chapada Diamantina, a região Oeste e a do São Francisco. Já o Centro-leste compreende parte do Nordeste do estado, a RMS, o Recôncavo e o litoral. “Em 2016 o El Niño foi muito intenso. No final do ano mudou para La Niña, mas não teve nenhum favorecimento do Oceano Pacífico pra cá, por isso permaneceu a irregularidade que já acontecia.” Mais da metade dos municípios baianos declarou situação de emergência por conta da seca. Ao todo são 223, que representam 3,2 milhões de pessoas afetadas. O problema é que a seca, que antes só afetava o semiárido, hoje atinge várias partes da Bahia. “Temos municípios no extremo sul do estado que declararam situação de emergência”, informou o superintendente de Proteção e Defesa Civil do Estado, Paulo Sérgio Luz.
Segundo ele, desta vez há um quadro de pré-colapso para 80 cidades. “Se não chover nos próximos 90 dias, pode faltar água nessas cidades. Na Bahia nunca tivemos essa situação. É a pior seca da história, apesar de não ter ninguém morrendo. Começou em 2011, em 2012 se intensificou e, em todos os anos seguintes, a chuva veio abaixo da média”, explicou. Segundo ele, a população da cidade fica apavorada diante da iminência da falta de água. “O semiárido está virando deserto e o Sul da Bahia virando semiárido. É preocupante a abrangência da seca.”