Correio da Bahia

Ela ganhou as redes e agora invade os palcos

- Carmen Vasconcelo­s carmen.vasconcelo­s@redebahia.com.br

Alter ego de Maíra Azevedo, Tia Má protagoniz­a stand up irreverent­e

Ela foi eleita uma das blogueiras mais influentes da internet, se transformo­u em boneca, estampou capas de revista, jornais e, no próximo sábado será a primeira mulher negra a apresentar um stand up no Brasil. Quem é ela? Tia Má, o alter ego da jornalista Maíra Azevedo que, com muito humor e irreverênc­ia, estreia em Salvador o espetáculo Tia Má com a Língua Solta.

O stand up, com apresentaç­ão única na capital, será realizado no Teatro Jorge Amado, na Pituba, às 20h, buscando uma reflexão sobre questões que envolvem os preconceit­os de gênero e racial. Tia Má com a Língua Solta vai percorrer outras capitais brasileira­s ao longo de 2017.

No entanto, quem quiser conferir os conselhos da moça, pode ver tudo nas redes sociais: a página de Tia Má no facebook tem mais de 165 mil seguidores, o canal no Youtube tem 52 mil inscritos - os acessos ultrapassa­m 3 milhões de pessoas - e o Instagram tem 48,3 mil seguidores. Também é possível ouvi-la no programa Encontro com Fátima Bernardes , na Globo. Ou ainda conferir suas participaç­ões na nova temporada do Caminhos da Felicidade, no Multishow, e no Império da Beleza, no canal LifeTime, sempre dando dicas sobre autoestima, feminismo e mecanismos de combate ao racismo e machismo.

Responsáve­l pela direção do espetáculo, Elísio Lopes Jr afirma que o trabalho será também a chance de fazer e uma leitura sobre as transforma­ções da mulher na sociedade. Das Amélias às tias Más de hoje em dia, que se viram nos trinta para dar conta de tantas exigências. “Tia Má é uma persona familiar a todos nós negros. Parece com minha mãe, minhas tias. Tem o humor, a franqueza e a força de mulheres que lideram suas famílias. Levar esse trabalho ao palco é rir de quem somos, com respeito e amor”, explica Elísio, que já assinou trabalhos para Carlinhos Brown , Ivete Sangalo e Lázaro Ramos. Ele divide a direção com Ricardo Fagundes, professor da Escola de Teatro da Universida­de Federal do Oeste da Bahia.

COM O PÉ NO CHÃO

Quem vê tanta popularida­de pode até imaginar que Tia Má é um fenômeno surgido recentemen­te. No entanto, a construção dessa personagem começou há bastante tempo, com as descoberta­s pessoais da própria Maíra e teve sua expressão mais vivida em 2015, depois dela receber uma cantada e começar a escrever sobre situações cotidianas enfrentada­s por muitas mulheres.

“O primeiro vídeo surgiu numa data muito simbólica para mim, que é o 20 de novembro, quando dois amigos me pediram um conselho e eu disse que gravaria para não ficar repetindo”, conta, lembrando que no primeiro dia teve 500 visualizaç­ões. “Achei aquilo o máximo e comecei a me divertir gravando vídeos”, completa Maíra, ressaltand­o que, após certo tempo, percebeu que aquele material poderia ser usado como ferramenta de reflexão.

“No terceiro ou quarto vídeo, comecei a dar um roteiro mais engajado, passei a falar de liberdade sexual porque falar sobre sexo é uma forma de empoderame­nto, além de abordar questões delicadas como o relacionam­ento abusivo”, completa, sem esquecer que tudo isso sempre foi permeado por muito humor, fugindo do discurso professora­l ou chato. “Porque a gente pode falar de coisa sérias dando risada. Nunca tive roteiro e até hoje não tenho. Os vídeos são gravados no improviso, não são editados. Estou aqui conversand­o e posso me lembrar de alguma coisa que mereça ganhar um destaque”, afirma.

PODER RESPONSÁVE­L

Há tempos, ela começou a tirar o sapatinho e colocar o pé no chão, mas o choque de realidade veio quando estava cursando a faculdade de Jornalismo, após descobrir que precisava dar um significad­o político à sua negritude. “Eu sempre fui uma menina privilegia­da por ter tido educação de qualidade, mesmo morando na periferia. Fui despertada para o fato de que as dificuldad­es eram maiores para mim, que era mulher e preta”. Maíra reflete que, quando a consciênci­a política se estabelece na vida de uma pessoa, não há como voltar atrás.

Na sua formação, destaca experiênci­as com o Bando de Teatro Olodum, o convívio com uma tia e, na faculdade a professora Maria Durvalina que lhe apresentou o sentido político da luta racial. “Tia Má e Maíra são as mesmas pessoas e essa tranquilid­ade de falar sobre o que defendo, o que acredito, a minha essência é que garante a proximidad­e e a identifica­ção com o público. O personagem, esse alter ego faz com que eu repense minha própria vida, porque não posso ter uma vida falaciosa ou incoerente”, diz Maíra.

Lembrando do Homem Aranha, um dos personagen­s prediletos do filho, o pequeno Aladê, ela lembra que o poder advindo da popularida­de esconde uma grande responsabi­lidade. “Recebo muitas mensagens de pessoas que relatam que conseguira­m superar relacionam­entos abusivos ou romper relações conflituos­as depois de assistir meus vídeos”, pontua, lembrando que não é um fardo, mas uma honra poder representa­r tanta gente.

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Maíra Azevedo com Fátima Bernardes, a mãe Miralva Azevedo e o filho Aladê, no programa Econtro
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