Preço da Carne Fraca
A economia brasileira está pagando caro pelas irregularidades praticadas em pelo menos 21 frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca da Polícia Federal (PF). Um balanço divulgado ontem pelo governo aponta que as exportações do setor caíram de US$ 63 milhões na média diária para apenas US$ 74 mil anteontem. O prejuízo é consequência da fama ruim que a carne do Brasil ganhou no mercado internacional depois que a PF anunciou a investigação na última sexta-feira.
Nos últimos seis dias, ao menos 15 países e a União Europeia anunciaram algum tipo de restrição à carne brasileira. Alguns suspenderam temporariamente a importação do produto, como Japão, Hong Kong e Egito. Já os EUA, Argentina e Arábia Saudita aumentaram o número de amostras inspecionadas, mas mantêm as importações.
Entre os países que anunciaram restrições, os que possuem maior peso nas exportações de carnes do Brasil são China, União Europeia, Hong Kong e Arábia Saudita, considerando o valor total que cada um comprou em 2016.
A Operação Carne Fraca investiga corrupção de fiscais do Ministério da Agricultura, suspeitos de receber propina para liberar licenças de frigoríficos em seis estados e no Distrito Federal. Além de corrupção, a PF também apura a venda de carne vencida ou estragada pelas empresas dentro do Brasil e no exterior.
EFEITO ECONÔMICO
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, projetou que o país deverá ter um prejuízo de até US$ 1,5 bilhão por ano devido aos desdobramentos da operação. Segundo ele, a participação do Brasil no mercado mundial pode diminuir até 10%.
“Se me perguntar qual o prejuízo que espero, a grosso modo, algumas contas que a gente faz preveem que o Brasil terá uma oscilação de mercado de 10%, aproximadamente”, disse Maggi durante audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e Agricultura, do Senado, ontem.
De acordo com o ministro, esses 10% de redução são sobre “um volume de US$ 15 bilhões que exportamos por ano”, em carnes e derivados. Por isso a previsão de que o prejuízo pode atingir US$ 1,5 bilhão. Em 2016, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil exportou US$ 13,49 bilhões em carnes para 137 países. O valor equivale a 7,3% de tudo que o país exportou no ano passado.
Já a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que os prejuízos cheguem a até US$ 2 bilhões, influenciados tanto pelas restrições internacionais como por uma provável queda do preço da carne brasileira. A expectativa é que outros mercados ainda venham a impor barreiras ao Brasil, segundo a AEB, o que traz oportunidades para competidores como Estados Unidos e Austrália, que também são grandes produtores de carne. Outros rivais que estão de olho no mercado dominado pela carne brasileira são Argentina, Irlanda e Nova Zelândia. Estes, porém, têm menor potencial de exportação.
O ministro da Indústria, Marcos Pereira, informou que já na segunda-feira, os embarques de carnes ficaram abaixo da média diária, com cerca de US$ 60 milhões enviados ao exterior.
Na avaliação de Pereira, os exportadores decidiram segurar os embarques neste primeiro momento. “Nossa análise é que os empresários estão aguardando. Eles estão muito cautelosos. Se eles exportam, correm o risco de ficar com a carga presa nos portos de destino. O custo de armazenagem é muito maior do que se guardar os produtos com ele”, afirmou o ministro.
De acordo com Pereira, ainda é cedo para saber o impacto para a balança comercial. Mas, se a crise se prolongar, há risco de que o resultado do comércio exterior brasileiro seja comprometido. “Evidentemente, se os embargos se mantiverem por muito tempo, pode ter um resultado negativo para a balança comercial. É um produto muito importante na exportação”, diz.
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