Conflito em família
O baiano João Gabriel, 37 anos, já havia realizado o longa Quando Nada Acontece, em 2001, mas ele mesmo considera Travessia sua estreia, já que aquele não estreou em circuito e foi realizado com um orçamento inferior a R$ 10 mil, com o apoio de amigos.
Para Travessia, o orçamento chegou a R$ 2,8 milhões, com recursos captados via Ancine e governo do estado. No elenco, o diretor conseguiu dois nomes que ajudaram a alavancar o prestígio do filme: de um lado, Chico Díaz, um dos melhores atores brasileiros (embora tenha nascido no México) de sua geração; do outro, Caio Castro, que, se não prima pela excelência na interpretação, como Chico, desponta como um dos grandes galãs do país. O filme estreia hoje em mais de 30 salas do Brasil.
Em Travessia, Chico e Caio são Roberto e Júlio, pai e filho, que estão sempre em conflito. O desentendimento entre os dois piora depois que a mãe de Júlio morre e sua herança se torna objeto de conflito entre os dois. “Tive dificuldades de relacionamento com meu pai, mas não me espelhei na minha relação com ele para fazer o filme. Na verdade, é mais que um filme sobre relacionamento entre pai e filho. É também um recado: nós devemos resolver os conflitos pessoais logo, antes que seja tarde”, diz João Gabriel, que assina o roteiro com o irmão, Paulo Tiago (morto pouco antes da conclusão do filme) e com Maria Carolina.
Chico Díaz afirma que, depois de 40 anos de carreira, motiva-se a atuar por duas razões: “Ou pela temática oferecida ou pela pessoa à frente do projeto. No caso de Travessia, foram os dois fatores. Eu nunca havia trabalhado a solidão e a melancolia no cinema. E João Gabriel mostra a Bahia longe dos clichês”.
João sai desses clichês, mostrando uma Salvador mais “urbana”, distante dos cartões-postais. Mas isso não basta. O conflito entre pai e filho, que seria o mais importante do filme, é construído fragilmente e cai na pieguice. E o arrependimento do pai, que, depois de atropelar uma criança, resolve reconsiderar a relação com o filho, soa artificial.