Temer faz apelo para a base aliada ‘resistir’
CONVOCAÇÃO O presidente Michel Temer pediu, ontem, “resistência” à sua base aliada, durante café da manhã no Palácio da Alvorada. Com os presidentes da Câmara e do Senado investigados pela Operação Lava Jato a partir da delação de ex-executivos da Odebrecht, Temer fez um apelo aos parlamentares presentes. “Há questões das mais variadas, que muitas e muitas vezes visam, digamos assim, a desprestigiar a classe política, e nós todos precisamos resistir, eu tenho resistido enquanto posso”, disse. Sem se referir diretamente às investigações da Lava Jato, que incluem inquéritos contra 24 senadores e 39 deputados, Temer convocou os presentes ao café a não se intimidarem. “Não podemos nos acoelhar”, disse. Para o presidente, deputados e senadores devem “se revezar” na defesa das reformas, além de se dedicarem à autodefesa. Michel Temer sugeriu aos parlamentares aliados que não deixem de usar o espaço “para mostrar o que vocês estão fazendo, em nome do país” porque “sem embargo das dificuldades, nós temos de dar prova de trabalho, que virá pela aprovação dessas reformas”. Temer destacou que Executivo e Legislativo “serão os produtores da reconstrução do país”. O presidente brasileiro defendeu também a necessidade de não parar as pautas do Congresso a cada problema que surge na imprensa. “Não se pode, a todo momento, (quando) acontece um fato qualquer, uma notícia qualquer, parar o Executivo, parar a atividade do Legislativo. Nós temos que nos vitalizar e dar uma resposta muito adequada para o momento que nós vivemos”, afirmou. Comandada por dois deputados que serão investigados com base nas delações da Odebrecht, a comissão da reforma política, por exemplo, se reuniu ontem, e mesmo sob as críticas de alguns parlamentares, deu seguimento às discussões sobre mudanças nas regras do sistema político-eleitoral brasileiro. O presidente tem cumprido uma agenda intensa de almoços, jantares e cafés para assegurar apoio dos parlamentares às reformas, especialmente a da Previdência. No meio da batalha por votos, acabou tendo seu nome envolvido em delação do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, Márcio Faria da Silva. Aos procuradores, Faria da Silva afirmou que Temer comandou, em 2010, quando candidato a vice-presidente da República, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB. O valor era referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras. O presidente nega. O ex-deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) escreveu em carta, tornada pública anteontem, que o presidente foi quem convocou a reunião.