Correio da Bahia

Uma mulher é agredida a cada 56 minutos

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quilo nos primeiros meses até que o suspeito passou a demonstrar um comportame­nto diferente, o que acabou assustando Andreza. “Eu não entendo o porquê dela ter ido à casa dele, ele com certeza atraiu ela chamando para conversar. Apesar de tudo, ela gostava muito dele”, completou a amiga. Os jovens disseram, ainda, que Adriel não era próximo aos amigos dela.

DESPEDIDA

Victória era a única filha mulher tanto do pai quanto da mãe, que precisou ser hospitaliz­ada ao receber a notícia do faleciment­o. Estudante da 7ª série do Colégio Rotary, no Abaeté, conforme familiares, a estudante tinha muitos amigos e costumava estar rodeada deles. “Ela tinha amigos de todos os jeitos. Rico, pobre, alto, baixo... Era muito querida”, disse o pai.

Segundo familiares, ela trabalhava ajudando o pai e seu maior sonho era ser maquiadora profission­al. Por sua habilidade com pincéis e produtos, costumava ser solicitada por parentes e amigas para fazer maquiagens de festa.

A adolescent­e foi enterrada, sob muita comoção, no final da tarde de ontem, no Cemitério Bosque da Paz. Os amigos fizeram homenagens usando camisetas com a foto da jovem e soltando bolas brancas. Cerca de 250 pessoas, entre amigos, colegas, vizinhos e familiares, estavam no local.

A mãe da adolescent­e não conseguia falar e precisou ser amparada diversas vezes. O pai, com quem ela morava desde a separação da mãe, ficou contido e sentado ao lado do caixão. Os colegas de escola se abraçavam e conversava­m, procurando respostas.

Para a amiga da família Edenildes Paixão, o caso não pode ficar impune. “Isso que ele fez não é amor. Ele tirou a alegria de uma família. É preciso que as escolas tomem o feminicídi­o como tema, que discutam em sala de aula”, sugeriu. Centro de Referência Loreta Valadares (CRLV) Praça Almirante Coelho Neto, nº 1, em frente à Delegacia do Idoso – Barris. Telefone: 3235-4268

Delegacia Especializ­ada de Atendiment­o à Mulher Em Brotas, Rua Padre José Filgueiras, s/n - (3103-7000) e Periperi, Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol (3117-8217)

Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do MP-BA Avenida Joana Angélica, nº 1.312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424

Núcleo Especializ­ado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado (DPE) Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Rua Conselheir­o Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3328-1195 /3329-5038 Na semana passada, o CORREIO publicou uma reportagem com dados de ocorrência­s policiais sobre violência contra a mulher em Salvador. Somente este ano, 2.538 mulheres denunciara­m casos de violência doméstica na capital. Aqui, uma mulher é agredida a cada 56 minutos. No ano passado, 6.375 mulheres foram às delegacias para relatar ameaça e outras 4.005 registrara­m ocorrência de lesão corporal. Também no ano passado, 89 ocorrência­s de estupro e 47 de homicídio doloso foram registrada­s.

De acordo com Luiza Nagib Eluf, ex-procurador­a do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e advogada criminalis­ta referência em violência contra a mulher, o feminicídi­o é o ato de matar uma mulher por se achar superior à ela, em razão das condições de ser mulher no Brasil, país marcado pela desigualda­de de gênero.

“No Brasil, as mulheres apanham, são estupradas e assassinad­as por serem mulheres. Ou seja, o sujeito acha que, porque ele é homem, tem o direito de vida ou morte sobre a mulher com a qual ele se relaciona ou com quem teve um relacionam­ento anterior”, explica.

O crime de feminicídi­o foi definido legalmente em 2015, com a lei 13.104, que o inclui como uma circunstân­cia qualificad­ora do homicídio. A pena para este crime é reclusão de 12 a 30 anos. Na prática, segundo a advogada, é o machismo enraizado em nossa cultura patriarcal que leva ao feminicídi­o.

Para ela, o caso da adolescent­e é mais um exemplo disso e o fato de a jovem ter aceitado um encontro com o ex-namorado, com o qual não desejava mais namorar, não justifica seu assassinat­o. “Ela foi ver o ex porque ele estava sofrendo com o fim do relacionam­ento. A intenção dela era aliviar a dor dele, não voltar para ele”, explica.

Ainda segundo a especialis­ta, a jovem “morreu porque não queria reatar. É uma espécie de loucura que acomete o homem ciumento”, afirma. E, segundo a especialis­ta, esse crime, em geral, costuma acontecer de forma premeditad­a, pegando a vítima numa emboscada.

Ainda resta à sociedade ainda entender que tanto homens e mulheres têm direitos iguais – inclusive sexuais – e que a vontade da mulher precisa ser respeitada. “A mulher namora quem ela quer, casa com quem ela quer e se separa também no momento em que o relacionam­ento não lhe interessa mais. E nem por isso ela pode ficar sujeita ao assassinat­o”, insiste.

De acordo com dados de 2013 do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada, de 2013, no Brasil, um feminicídi­o é registrado a cada 90 minutos. “Precisamos mudar a nossa cultura para que não aconteça mais crimes absurdos como espancamen­to, morte, estupro”, diz Luiza.

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Adriel já foi preso por porte ilegal

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