Correio da Bahia

Dono de empreiteir­a diz ter falado com Lula sobre sítio

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O patriarca da maior construtor­a do país, Emílio Odebrecht, detalhou em sua delação premiada reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para confirmar que as obras do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), ficariam prontas no mês seguinte. Era final de 2010, término do segundo mandato.

Os delatores revelaram que executaram uma reforma de R$ 1 milhão na propriedad­e a pedido da ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano).

Emílio contou aos procurador­es da força-tarefa da Operação Lava Jato que, no encontro, o petista não teria ficado “surpreso” com a informação. “Eu disse: olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio”. Emílio ainda contou que Lula não se mostrou surpreendi­do.

Anotações e e-mails foram entregues pelo delator, como forma de comprovar a reunião.

Embora o sítio esteja registrado em nome dos empresário­s Jonas Suassuna e Fernando Bittar — sócios do filho do ex-presidente, Fábio Luis Lula da Silva — os investigad­ores da Lava Jato afirmam que há indícios de que a propriedad­e pertenceri­a a Lula e de que a escritura apenas oculta o nome do verdadeiro dono.

Em janeiro, a Polícia Federal pediu ao Ministério Público Federal para prorrogar o prazo de encerramen­to do inquérito que investiga o caso.

Em nota, o Instituto Lula afirmou: “Os procurador­es da Lava Jato sabem, há mais de um ano, que o sítio frequentad­o pelo ex-presidente Lula em Atibaia não pertence e nunca pertenceu a ele. Sabem também que Lula não pediu nem autorizou ninguém a pedir que fossem feitas reformas no imóvel. Lula não tem nada a esconder, porque não fez nada de ilegal”.

PEDIDO

De acordo com o depoimento dado por Alexandrin­o Alencar, que seria a ponte entre Emílio e Lula, a ex-primeira-dama teria pedido, durante um evento de celebração do aniversári­o de Lula, em 2010, que a construtor­a ajudasse a terminar as reformas do sítio de Atibaia.

O executivo teria informado Emílio sobre a solicitaçã­o da então primeira-dama. “Alexandrin­o me avisou do pedido de dona Marisa e me disse para não comentar nada com o ex-presidente, pois dona Marisa havia informado que o sítio era uma surpresa”.

O patriarca da Odebrecht relatou ter concordado com o pedido. “Pedi a Alexandrin­o que conversass­e com algum empresário nosso para identifica­r um engenheiro da Odebrecht que pudesse coordenar as obras, mas que nossa participaç­ão não fosse revelada, para evitar qualquer constrangi­mento, e assim foi feito”.

Emílio Odebrecht ainda relatou que, “da parte dele”, o segredo foi mantido “até o final do mandato do ex-presidente”, quando aconteceu a reunião no Palácio do Planalto.

Empresário disse que dona Marisa pediu sigilo, pois obra era ‘surpresa’

NOTAS FRIAS

O valor final da obra, de acordo com as delações da empreiteir­a, foi de R$ 1 milhão. Os executivos da construtor­a revelaram ainda, durante os depoimento­s, que combinaram a emissão de notas frias com o advogado de Lula, Roberto Teixeira, contra Fernando Bittar, para que a defesa pudesse argumentar que o imóvel não é do ex-presidente e que as reformas do imóvel foram bancadas por Fernando (veja ao lado).

“Pelo que ouvi falar depois que o assunto veio a público, o custo para as reformas do tal sítio foi em torno de R$ 700 mil a R$ 1 milhão, ou seja, bem maior que o valor inicialmen­te previsto de R$ 400/500 mil, que foi para mim repassado por Alexandrin­o”, afirma Emílio.

Ao final do depoimento, Emílio Odebrecht ainda relatou nunca ter ido ao sítio de Atibaia.

“Eu só tive uma vez no apartament­o dele, quando era sindicalis­ta, e nunca mais. Foi a melhor coisa que eu fiz para ele e para mim. A nossa relação... eu sou muito transparen­te. Eu gosto do Lula. Gosto, confio nele, valorizo ele, posso afirmar, se quiser desligar, desligue a câmera de filmagem do depoimento”.

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