Correio da Bahia

Delator ajudou a forjar contrato

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O engenheiro civil Emyr Costa, responsáve­l pela obra do sítio de Atibaia (SP), frequentad­o pela família do ex-presidente Lula, contou à Procurador­ia Geral da República (PGR) que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder que a Odebrecht havia executado a reforma da propriedad­e. O engenheiro afirmou também que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteir­a para executar a obra.

Ele é um dos 78 executivos e ex-dirigentes da empreiteir­a que fizeram acordo com a PGR para relatar irregulari­dades cometidas pela construtor­a em troca de eventual redução de pena.

Emyr Costa afirmou que foi destacado para coordenar a obra do sítio, no final de 2010, em uma conversa com o executivo Carlos Paschoal, responsáve­l pelas operações da Odebrecht em São Paulo. Segundo o engenheiro, na época ele comandava os projetos de saneamento da construtor­a entre São Paulo e São Caetano do Sul, município do Grande ABC. Ele explicou à PGR que nunca tinha visto tanto dinheiro vivo como quando recebeu da Odebrecht os R$ 500 mil em espécie, por isso comprou o cofre, do qual, todas as semanas, sacava R$ 100 mil para entregar à empresa subcontrat­ada para fazer a reforma.

O engenheiro explicou aos procurador­es como auxiliou o advogado Roberto Teixeira – amigo do ex-presidente – e o ex-dirigente da Odebrecht Alexandrin­o Alencar a redigir um contrato falso para maquiar o envolvimen­to da construtor­a na reforma do sítio. Conforme o delator, na reunião com Teixeira e Alexandrin­o, ele informou que as despesas da obra seriam pagas em dinheiro vivo e que seria subcontrat­ada uma empreiteir­a menor para executar o serviço.

Roberto Teixeira sugeriu, então, que o engenheiro procurasse o empreiteir­o para elaborar um contrato de prestação de serviços em nome do proprietár­io que aparece na escritura, Fernando Bittar.

Diante da proposta do advogado, contou o delator, ele próprio sugeriu que fosse colocado no contrato um valor inferior aos R$ 700 mil que foram gastos na obra. Costa explicou que decidiram definir que a reforma havia custado R$ 150 mil para que ficasse compatível com a renda de Bittar.

“Eu fui lá para que não aparecesse que foi feito pela Odebrecht em benefício de Lula. Vai lá e faz um contrato entre Bittar e Carlos Rodrigo do Brato, que tem uma construtor­a e, nesse mesmo objeto, eu declarei: coloca um valor até mais baixo para ser compatível com a renda do Bittar”, observou Costa.

“A gente colocou mais baixo que os 700 mil [reais]. Colocamos 150 mil e eu fiz o contrato pessoalmen­te, marquei uma reunião, levei o contrato, pedi para ele assinar e emitir uma nota no valor do contrato”, complement­ou.

O engenheiro contou no depoimento que a reforma do sítio de Atibaia incluiu a construção de uma casa para os seguranças da Presidênci­a da República que atuavam na equipe de Lula, suítes na casa principal, duas áreas de depósitos para adega e quarto de empregada, sauna, conserto de vazamento da piscina e conclusão de um campo de futebol.

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