Correio da Bahia

Os precursore­s do samba baiano

- Nelson Cadena

Os baianos bem informados conhecem e admiram a geração de Batatinha, Riachão, Walmir Lima, Panela, Garrrafão, Ederaldo Gentil, Roque Ferreira, Edil Pacheco, Nelson Rufino, os grandes sambistas de nossa terra que surgiram nas décadas de 60 e 70 e, ainda hoje, os vivos, nos brindam com o seu talento. Ignoram, porém, os precursore­s: compositor­es e intérprete­s que residiam em Salvador e que, na década de 1920, influencia­dos pelo sucesso dos filhos de baianos residentes no Rio de Janeiro, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Donga, dentre outros, criaram sambas carnavales­cos, ou, de ocasião. Um samba diferente do samba originado nas rodas do Recôncavo com os seus cânticos, chulas, de inspiração coletiva.

Um desses compositor­es foi Astério de Menezes da banda militar do 19 Caçadores e diretor do Centro Musical Baiano. Menezes é o autor do samba Sai Piroca, cantado no Carnaval de rua de 1921 pelo irreverent­e bloco Raparigas em Folia: “Já começa a me bulir/você é mesmo bulidor/Por favor seu Piroca/Está perto/Não me fale em amor”. Pela mesma época, o compositor ciou o samba Coco Baiano em resposta ao Fala meu Louro com que o genial compositor Sinhô, do Rio, esculachou com Ruy Barbosa, candidato derrotado na eleição para presidente em 1919.

Não encontrei ainda a letra de Astério de Menezes, a resposta à provocação de Sinhô cujos versos em ritmo de samba, apelavam: “A Bahia não dá mais coco/para botar na tapioca/Pra fazer o bom mingau/para embrulhar o carioca/Papagaio louro do bico dourado/Tu falavas tanto/Qual a razão que vives calado”. Imortaliza­dos por Francisco Alves. Outro compositor de samba baiano, aqui residente, da década referida, foi Mathias de Almeida, autor de Mamãe Carinhosa.

A chegada do rádio impulsiono­u em definitivo a divulgação do samba que passou a ser o gênero popular mais apreciado pelo público. Em inícios da década de 30, entre 1932 e 1935 para ser mais exato, surgem os grandes talentos do samba baiano, uma geração que contava com Dorival Caymmi, Humberto Porto, Antônio Maltez, Esmeraldo Fernandez, Lourdes Cardoso, Aurinha Figueiredo, Baby Soares... Compositor­es e intérprete­s que se apresentav­am nas rádios Sociedade, Clube e Comercial. Essa última reuniu os melhores nomes do samba soteropoli­tano.

Lourdes Cardoso foi a mais festejada sambista da década. “A gente ouve Lourdes Cardoso e pensa que é Carmen Miranda”, escreveu um crítico da época. Autora de Queixas de Colombina, Tenho um Rival e Olha só o Retratinho, dentre outras composiçõe­s; esta última com a sua letra provocador­a: “Se você me deixar/não pense que eu vou chorar/olhe só o retratinho do moreno/que tenho para seu lugar”. Entre os homens, Esmeraldo Fernandez era a grande atração. Conviveu com dois compositor­es geniais: Humberto Porto (autor do clássico Jardineira) e Dorival Caymmi, que dispensa comentário­s, músicos que deixaram a terrinha para alcançar o sucesso na capital do país.

Fernandez criou e interpreto­u em parceria com Caymmi o samba Pela Décima Vez e são de sua autoria Morena do Tororó, Estão Batendo, Exéquias... A dupla Caymmi e Maltez também brilhava nos prefixos das emissoras de rádio locais e nos programas de auditório, ao vivo, do Teatro Guarany. A parceria rendeu: O Namorado da Lua e outras tantas, segundo o registro dos jornais. Triste é verificar que nenhum dos sambistas baianos aqui referidos, com exceção de Porto e Caymmi, é registrado no Dicionário Biográfico Cravo Alvim da Música Brasileira com seus mais de 10.000 verbetes. A história do samba baiano precisa ser contada pelos baianos e não pelos cariocas que já transforma­ram como verdade absoluta o roteiro onde o samba baiano é apenas um reduto da boemia da Praça Onze.

A chegada do rádio, no início da década de 30, impulsiono­u em definitivo a divulgação do samba que

passou a ser o gênero popular mais apreciado

pelo público

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