Correio da Bahia

Cobertas, passarelas viram lar

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A voz de Sandra dos Santos, 40 anos, quase não sai. O barulho dos carros que passam em alta velocidade na Avenida Heitor Dias ajuda a abafar os sons. Ela diz que aquela passarela pintada de verde agora é sua casa. Sandra vive na rua. Ela não sabe dizer ao certo há quanto tempo, mas diz que é “há um bocado de tempo”, o suficiente para afirmar que não tem ninguém, é sozinha no mundo.

O trabalhado­r autônomo Paulo Salles, 48, mora bem próximo da passarela onde Sandra tem ficado. “Tem uns 10 dias que ela chegou aí. Ela costuma ficar sozinha. Vejo todos os dias, mas sempre só ela”, contou. Segundo ele, ela está sempre ali, sentada, com suas coisas. Não costuma interagir com as pessoas. “Mas não fica muita gente no ponto, até porque é meio perigoso. Quando passa o ônibus, todo mundo vai embora”.

Mas Sandra não vai. Quando conversou com a equipe do CORREIO, ela explicou o motivo de ter escolhido a passarela. “Durmo aqui por causa da sombra. Tem iluminação à noite”, disse, enquanto separava um pacote de biscoitos doados. Natural de Salvador, Sandra nasceu na região da Vasco da Gama. Não sabe dizer quando saiu de lá para a rua.

Na Vasco, a passarela que fica perto da Perini ganhou um morador novo nas últimas semanas. “Tem mais ou menos um mês que ele dorme aí. Vejo todo dia”, contou o vigilante Sérgio Andrade, 52, que trabalha em um posto de gasolina.

O novo habitante da passarela não quis conversar com o CORREIO. Mas ele não foi o único a adotar o espaço. Semanas antes, segundo um vendedor de doces, a mesma passarela abrigava um grupo de quatro pessoas. Certo dia, foram embora. “Mas esse tempo de chuva é que começa a aumentar. No Inverno, isso aqui parece hotel”, disse o ambulante, sob anonimato.

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