Terrorismo monitorado
Atirador de Paris já havia sido preso e era investigado por ligação radical
A identificação do atirador que matou um policial e deixou outros dois feridos na Avenida Champs-Élysées, em Paris, evidenciou a dificuldade das autoridades europeias em monitorar os terroristas ou possíveis radicais. Isso porque o homem de 39 anos, que foi morto após disparar na avenida mais famosa do país anteontem, já era conhecido das autoridades de segurança antiterror.
Karim Cheurfi, de nacionalidade francesa, foi condenado em 2001 por ter atirado em um policial e há dois meses foi interrogado pela polícia por suspeita de ser uma ameaça à segurança pública. Fontes policiais confirmaram que Cheurfi foi monitorado e chamado a depor por prováveis ligações com o grupo extremista Estado Islâmico (EI). Porém, após o interrogatório, o homem foi liberado por falta de provas.
Horas depois do ataque na Champs-Élysées, o Estado Islâmico confirmou o que as autoridades francesas chegaram a cogitar: Cheurfi era mesmo um soldado do EI. Sua capacidade de escapar da rede de segurança às vésperas de uma eleição presidencial fortemente disputada lembrou aos governos europeus o quanto é difícil fazer uma triagem dos possíveis radicais por meio de uma série de dados de inteligência.
CAÇADA AOS CÚMPLICES Ontem, a polícia francesa iniciou ainda na madrugada uma operação no subúrbio de Paris, na região de Seine-et-Marne, onde morava o atirador, para procurar possíveis cúmplices e reunir mais provas contra o autor do atentado.
Três pessoas próximas a Cheurfi, possivelmente seus parentes, foram detidas e interrogadas. Buscas foram realizadas na residência do atirador. Ainda no dia do atentado, uma carta em defesa do grupo radical foi encontrada perto do corpo do terrorista, segundo a Reuters. Em seu carro, foram encontrados um rifle e facas.
O presidente francês, François Hollande, visitou ontem o hospital Georges Pompidou de Paris onde estão os policiais feridos no ataque. Ele estava acompanhado do primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve, e do ministro de Interior, Matthias Fekl. Hollande foi também à sede da polícia da capital francesa para manifestar seu apoio às forças da ordem, segundo a agência Efe.
SEGURANÇA REFORÇADA
A avenida mais famosa da França foi liberada para os carros e pedestres ontem, mas a segurança está reforçada. Em outros pontos de grande movimentação, como a Torre Eiffel, também há uma grande quantidade de policiais circulando.
O governo da França anunciou ontem que suas forças de segurança foram completamente mobilizadas para o primeiro turno das eleições presidenciais, marcado para acontecer amanhã.
“Nada deve poder impedir o processo democrático fundamental do nosso país”, disse o primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve, após uma reunião de emergência em seu gabinete para tratar da segurança.
O país está em estado de emergência desde novembro de 2015, quando o Estado Islâmico coordenou ataques à casa de shows Bataclan e restaurantes próximos, que deixaram 130 mortos e mais de 350 feridos na capital francesa.
Dois dias antes do ataque de anteontem, uma operação policial prendeu dois homens em Marselha suspeitos de preparar um atentado visando as eleições. Segundo o ministro do Interior, Matthias Fekl, os dois suspeitos, de 29 e 23 anos, têm “nacionalidade francesa” e foram “radicalizados”.
Os dois homens, vigiados pela polícia por radicalização, já haviam sido presos por outros delitos sem relação com o terrorismo, informaram autoridades. A polícia acrescentou que um dos dois tinha se convertido ao radicalismo islâmico durante um período na prisão. O procurador de Paris, François Molins, afirmou mais tarde que, durante as buscas na casa dos suspeitos, foram encontrados uma bandeira do grupo Estado Islâmico, material de propaganda jihadista, várias armas e explosivos. Segundo ele, um dos suspeitos estava planejando declarar aliança ao grupo extremista e o outro tinha ligação com uma célula jihadista na Bélgica. Com base nas buscas, foi possível desarticular o ataque.