Turismo, a mola motriz
A incompreensão dos governantes quanto à natureza estratégica do turismo como atividade econômica do estado fica, mais uma vez, evidenciada pelo descaso com a falta do Centro de Convenções em Salvador. Passaram-se 28 meses desde que o governador nos prometeu um novo Centro de Convenções, isto antes de assumir seu mandato, mas infelizmente o que vemos são informações desencontradas e sem um interlocutor para cobrarmos respostas concretas. O que mais ouvimos são respostas no gerúndio, “estudando, analisando, pensando e que teremos boas surpresas”.
Não se fez a manutenção preventiva e corretiva na última década, somente obras de perfumaria, prejudicando a captação de congressos, convenções e eventos, ao contrário, o que se viu foi o Centro de Convenções ser fechado em março de 2015 e com sua reabertura sempre adiada, finalizando com seu desabamento, sem uma explicação e uma análise técnica com o real motivo do ocorrido depois de oito meses do sinistro. Perdemos mais de R$ 600 milhões nos últimos três anos somente em diárias de hotéis pela falta do equipamento, isto sem contar os outros 52 setores da economia que são beneficiados pela cadeia produtiva do turismo segundo a OMT (Organização Mundial do Trabalho).
Equipamento indispensável para o turismo da cidade, tem provocado prejuízos incalculáveis, não apenas ao trade turístico, com a desativação de diversos meios de hospedagem, mas à população, com o incremento do desemprego e a fuga de turistas de eventos, filão da economia do setor, para outros estados que têm equipamentos novos e modernos, a exemplo de Fortaleza e Recife.
A capital baiana possui mais de 400 hotéis, que dependem diretamente de congressos e convenções, especialmente na baixa estação, assim como dez mil bares e restaurantes, que têm sua receita atrelada, em parte, ao fluxo de congressistas na cidade. A força do trade é traduzido nos números que envolvem o setor: o turismo representa 20% do PIB e 23% do ISS do município de Salvador, além de ser um dos maiores empregadores da capital.
Uma atividade que representa mais 7,5% do PIB baiano, movimentando cerca de R$ 8 bilhões, gerando mais de 950 mil empregos (entre diretos e indiretos) em hotéis, bares, restaurantes, transporte, operadoras e agências de viagens, e que no entanto dispôs apenas de 0,43% do orçamento do estado em 2016. E para 2017, o orçado é 0,28%.
Perguntar não ofende: em setembro de 2016, os 39 deputados federais pela Bahia, propuseram uma emenda parlamentar de bancada no valor de R$ 100 milhões para reforma ou construção de um Centro de Convenções, recurso este que seria liberado para o governo do estado, o que foi feito com esta emenda?
Lamentavelmente quase todas as conquistas de um setor que ensinou o Brasil e o mundo a fazer promoção e marketing de um estado se perderam nos dias atuais.
Cessaram os esforços para atração de voos internacionais depois da perda de todas as frequências da América Airlines, suspendeu-se a realização do Salão Baiano de Turismo, não se renovou o contrato para a realização da Stock Car, não se desenvolveram mais ações promocionais do destino Bahia para o São João, Carnaval e outros eventos, atrasou-se a requalificação da Baía de Todos os Santos e transformou-se a Bahiatursa em mera realizadora de eventos que nada tem acrescentado ao turismo.
A ausência de campanhas para público final nos mercados emissores nacionais e internacionais, a eliminação de eventos promocionais, o rebaixamento institucional e finalístico da Bahiatursa e o desinvestimento em qualificação profissional, nos levaram ao sombrio cenário do turismo na Bahia, sobretudo na capital do estado.
Chegamos ao fechamento de 2016 com 53,25% de ocupação anual na cidade de Salvador, lembrando a todos que precisamos no mínimo de 60% de ocupação para atingirmos nosso ponto de equilíbrio.
O ano de 2015 já tinha sido pior dos últimos 30 anos, mas o recorde negativo se deu em 2016. São dois anos que não se tem uma campanha promocional para o Verão. E a baixa estação está reeditando os anos anteriores. O turismo que já foi um fator anticrise, em vez de ter a sua importância reconhecida e maiores investimentos, só registrou perdas nos últimos cinco anos.
“O turismo é uma das melhores saídas para a crise, é o setor da economia que consegue responder mais rápido e que pode gerar emprego num curtíssimo prazo”. Infelizmente o que se vê é uma cegueira estratégica no setor.