Imagens e história
O Eixo de Oju, exposição comemorativa dos 40 anos de fotografia de Aristides Alves, está em cartaz na Galeria Paulo Darzé, até o dia 13 de maio. Para comemorar a data, o artista lançou na abertura da exposição o livro O Eixo de Oju, com cinco ensaios autorais que acompanharam sua trajetória artística, sendo três inéditos, acompanhado de um prefácio de Diógenes Moura, escritor e curador da exposição, e uma mostra com 40 trabalhos em p/b e cor com dimensões variadas.
Aristides Alves nasceu em Belo Horizonte. Desde 1972 mora em Salvador, onde se formou em Jornalismo e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia. Realizou a exposição coletiva Fotobahia (1978/1984); foi coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, produziu e editou o livro A Fotografia na Bahia (1839/2006). Criou a primeira agência baiana de fotografia, a ASA, e foi correspondente da agência paulista de fotojornalismo F4. Ensina fotografia, trabalha com pesquisa, curadoria e montagem de exposições. A exposição é um resumo bem cuidado dessas quatro décadas de produção. As fotos têm luz doce, com imersões de figuras levemente iluminadas, contrastando com fundo preto. São quase insinuações, que enobrecem as fotografias especialmente as em preto e branco. De início, há alguns registros da galinha d’Angola. Originária da África Ocidental e conhecida por vários nomes, dependendo da região onde se encontra no Brasil. São aves de bando e como grupo, são organizadas. É conhecida também por servir de oferendas em alguns rituais, especialmente para Oxum. Sugerem pinturas abstratas, pontilhadas, mergulhando entre claro e escuro. Seguindo o trajeto corpos nus posados em grande fluidez, panos que esvoaçam entre as mãos da figura, com transparências inusitadas. Outra figura segura com as duas mãos a cabeça de uma escultura, num diálogo entre ânima e matéria, outra em nudez frontal, desfaz a identidade com uma capa de revista, ainda um personagem esconde-se entre estrelas do mar, mais acesas que o corpo. Assim corpos seguem envolvidos em esculturas tubulares, réstias de alho e ‘banho’ de penas com impressionante leveza. Os diálogos entre corpos e elementos inanimados trazem uma lógica que é intrínseca ao artista. Nas fotos coloridas, sombras de mulher retida na parede, pombos engaiolados, fragmentos de azulejos, insetos, florinhas, santos, véus, buscando uma doutrina que revela a essência das coisas, criação de uma natureza visionária, além da realidade das coisas.
O primeiro dos ensaios é inspirado num conto iorubá: uma ave desprezada por não possuir nenhum encantamento encontra na floresta sagrada um velho abandonado e doente. Após sete dias alimentando e cuidando do ancião, ele se revela Obatalá, e, como agradecimento, pintando-a com Efun, transformando-a no animal mais importante do culto dos Orixás ETU, a galinha d’Angola.
Com o título Outros, o segundo ensaio mostra as imagens realizadas no período entre 1994 a 2015, onde descontextualiza elementos e objetos do seu universo cultural associando-os ao corpo nu. Ainda nos inéditos, temos Tríade, seleção de fotografias realizadas nos últimos 10 anos, entre Belém do Pará e Sul da Bahia, o litoral e o sertão. Cada foto extrapola o contexto do ensaio de origem, ativa uma história e um espaço próprios que vão além do aparente. Cada conjunto propõe um patamar de reflexão.
Os outros dois ensaios apresentam um conjunto de imagens entre 1998 e 2016 influenciadas pela leitura do livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, de Eugen Herrigel, e de uma oficina de fotografia feita com Paulo Leminski – O Hai Kai e a Fotografia. São pequenos recortes com as minúcias de luz/sombra, claro/escuro, figura/fundo, resultantes do trabalho na contemplação solitária de centros urbanos.