Correio da Bahia

CELEBRANDO NA CAPITAL

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“O que a gente observa é que, com todas as dificuldad­es que esse público tem, a música faz com que possa se centrar e ter oportunida­de de fazer a diferença, transpor a condição social e ir além”, destaca a assistente social do Neojiba Joana Angélica Rocha, 41. “Essa coisa de se inserir no meio social, sair da sua comunidade, é importante”, completa.

Morador de Paripe, o estudante Daniel Silva, 15 anos, conta que a música muda a pessoa em vários aspectos. “No comportame­nto, te motiva a estudar, abre sua mente para pensar mais. É meio difícil de explicar, porque música você sente e faz”, resume o jovem que fez parte do núcleo Federação e integra a OCA.

O estudante Márcio Levi Gomes, 17, é um bom exemplo de mudança. “Eu era rebelde e o Neojiba me fez mudar muito”, garante o jovem, que integra o núcleo que funciona no Centro Educaciona­l Santo Antônio (Cesa), em Simões Filho. Violinista e apaixonado por regência, Levi entrou no Neojiba em 2013 e hoje faz monitoria em regência, além de auxiliar as aulas de violino.

“Pela forma que o Neojiba me transformo­u, ele pode transforma­r outros jovens. O Neojiba pede muita responsabi­lidade, muito compromiss­o. Tudo o que passei no programa foi me preparando para a vida: saber me colocar, saber respeitar... Ele traz um ensino técnico, mas também ensino da vida, social”, acredita.

A mãe de Levi, a dona de casa Eumárcia Gomes, 47, grava todas as apresentaç­ões do filho, cheia de orgulho. Mostrou para todo mundo? “Claro! Botei no ‘zap’” gargalhou a mãe coruja. “O Neojiba, em vez de colocar uma arma na mão de um adolescent­e, coloca o instrument­o que ele vê na tevê e admira, mas não tem acesso. Acaba realizando um sonho, como aconteceu com meu filho, que começou como aluno e hoje é instrutor”, finaliza. Hoje, às 19h30, no Teatro Castro Alves (Campo Grande). Ingresso: R$ 4 | R$ 2. Com a Orquestra Juvenil da Bahia, Coro Juvenil do Neojiba e integrante­s da Orquestra Castro Alves. Regência: maestro e pianista Ricardo Castro.

6 de maio, às 16h, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (Pelourinho). Entrada gratuita. Com a Orquestra Juvenil da Bahia.

9 de maio, às 18h30, Instituto Feminino da Bahia (Politeama). Entrada gratuita. Com integrante­s da Orquestra Castro Alves (OCA).

Este ano iniciamos o Promulti, um projeto de multiplica­dores: todos os músicos da Orquestra Juvenil da Bahia atuam nas escolas de seus bairros, não somente na área da música, mas no incentivo da prática artística em geral. Procuramos formar cidadãos que também são músicos, e não músicos que só entram para tocar. Acho que todo ser humano precisa se sentir necessário e nossos jovens sabem que podem fazer a diferença na sua comunidade, na sua escola, dentro da família. Essa comunicaçã­o é criada no ambiente da prática musical coletiva e isso tem atraído mais do que o conteúdo, em si. Não é porque eles vão tocar uma sinfonia de Beethoven, é porque vão tocar dessa maneira, com essas pessoas. O Neojiba, hoje,

Queremos estabelece­r uma política, a longo prazo, onde a prática artística faça parte do cotidiano de todas as crianças. O Neojiba está no front dessa luta, justamente no momento em que as ciências humanas e as práticas artísticas têm sido atacadas em detrimento do avanço tecnológic­o. Acreditamo­s que um ser humano mais equilibrad­o vai colaborar de forma mais efetiva com a sociedade. Inclusive na área das exatas. O ser humano precisa do componente equilibran­te, que é o componente afetivo, e é a arte que o toca da maneira mais efetiva. Então, é uma meta do Neojiba que isso seja defendido como política pública. A cultura não como objeto de consumo, mas como prática. A gente considera que por aí a gente transforma e, quem sabe, salva o mundo.

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