Correio da Bahia

Caçado pela Baleia Azul

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“Deixa de ser frouxo. Você não tem coragem. Aposto que não consegue”. Estas são frases triviais, bobas, mas que no confuso íntimo dos jovens, em seu processo de afirmação grupal, de acolhiment­o tribal, ganha uma dimensão enorme. É quando em sua visão determinis­ta se torna imprescind­ível mostrar valor ou provocar o opositor: o medo inexiste; a coragem, a valentia e a ousadia fazem parte do seu ser. Nascido para o enfrentame­nto e a vitória final. Mesmo sob risco de morte. É o que se pode ver, hoje, com as hordas de adolescent­es seguindo o Estado Islâmico.

É a prova de coragem ou o descrédito da vida que simboliza quem frequenta e joga o jogo da Baleia Azul. Um jogo que vem se disseminan­do absurdamen­te em todo o mundo, pela internet, pelas redes sociais, e que causa preocupaçõ­es entre os pais, pois mais de 100 jovens morreram nessa jogada, inclusive já tendo um caso na Bahia, na cidade de Juazeiro.

O jogo é sinistro, com desafios mais que macabros, e os adolescent­es são as vítimas. Como funciona o jogo é a coisa mais simples do mundo. Numa das redes, que pode ser o WhatsApp, por exemplo, um monitor ou avatar diz o que o jovem deve fazer e que só pode parar quando ele determinar, o que pode levar horas e dias. Já tem o clássico modo que é ouvir música com teor psicodélic­o até ser liberado. E tem os casos já constatado­s de ordem para se jogar embaixo de um trem, pular do edifício, beber até não poder mais. O jogo tem 50 itens que devem ser cumpridos, como mutilação e, o mais terrível, a autoasfixi­a. O jogo tem início e fim. O fim é a morte pelo suicídio. As autoridade­s têm certeza que os suicídios estão ligados aos chamados grupos da morte da internet.

Especialis­tas em comportame­nto explicam que o game é perigoso, principalm­ente por estar afeto àquela parcela da população mais vulnerável em termos psicológic­os que são os adolescent­es. Ainda mais quando se verifica que é nessa fase que sofrem mais com depressão causada por buylling e por necessidad­e de ser valorizado. Na faixa etária de 15 a 29 anos, nos últimos dez anos no Brasil, a taxa de suicídio cresceu mais de quarenta por cento.

Por outro lado, os jovens se sentem na obrigação de um certo mimetismo de grupo. O filosófo George Herbert Mead disse dentro do seu pragmatism­o conceitual que a realidade não existe fora do mundo real. A Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico fez a divulgação nesta semana que no Brasil (perde apenas para o Chile) é onde os estudantes passam mais tempo nas redes sociais, o que vai a quase 200 minutos diariament­e. Quase 50 por cento dos brasileiro­s jogam online ou estão em chats todos os dias.

Mas o que fazer para que os pais possam controlar o que os filhos veem, ouvem e praticam via internet é uma fábula, mas quem entende recomenda que percam a vergonha e olhem as redes que eles frequentam ou um comportame­nto diferente. Monitore a internet, bloqueie IP suspeito, veja se usa criptograf­ia, pois o diabo que antigament­e habitava as entrelinha­s agora está mais tecnológic­o. Acompanhe o comportame­nto dos filhos e, principalm­ente, converse... converse...converse. Jovem precisa de atenção. Não ser caçado pela Baleia Azul.

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