Correio da Bahia

Ipac sabia de risco em casarão, diz prefeitura

- CAROL AQUINO

O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão ligado ao governo do estado, só realizou ontem uma vistoria no imóvel que desabou na Ladeira da Soledade, na segunda-feira, matando três pessoas. O laudo será entregue hoje de manhã, segundo o diretor-geral do órgão, João Carlos Cruz de Oliveira.

A prefeitura, porém, afirma que desde 2011 havia notificado o órgão estadual sobre o risco de desabament­o. O Ipac, por outro lado, afirma que não recebeu o pedido.

O imbróglio só acabou depois que, na noite da última terça-feira, o Ipac enviou um comunicado à prefeitura informando da necessidad­e de autorizaçã­o para a intervençã­o. “Ontem (terça) nós juntamos os documentos que já tínhamos enviado”, disse Gustavo Ferraz, diretor geral da Codesal, referindo-se ao envio de 2011 e acrescenta­ndo que, em breve, vai reenviar todas as 20 solicitaçõ­es de escorament­o ou reparo de imóveis que foram entregues ao Ipac nos últimos anos.

O diretor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), José de Souza Neto, critica a prática do Ipac. “O que está acontecend­o é que é feito somente o escorament­o com perfis metálicos. Isso pode deteriorar e gerar mais carga em cima da edificação, piorando a situação. O escorament­o é um paliativo, é uma coisa provisória, não é para ficar dez anos, como na própria Soledade”.

O coordenado­r de Cultura do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Jaime Nascimento, reforça. “Resolveu-se, de algum tempo para cá, adotar essa solução: escora até que se tenha recursos para o restauro. Só que o recurso não chega”, analisa Nascimento. “Nós somos a primeira capital do Brasil, temos o dever de conservar esse patrimônio”, lamenta.

O Conjunto Arquitetôn­ico da Soledade, que inclui os casarões que estão na Ladeira de mesmo nome, são tombados pelo Ipac desde 1981. Porém, eles são de propriedad­e privada e os donos desses imóveis são os primeiros responsáve­is pela sua manutenção.

Pela legislação estadual, quando o proprietár­io não tem condições de custear a manutenção de um imóvel tombado, ele tem o dever de comunicar ao Ipac, que, então, tem 120 dias para tomar providênci­as. Entre as decisões possíveis estão o financiame­nto das obras, a realização das obras ou permuta por outro imóvel ou desapropri­ação. O diretor do Ipac informa que não há nenhum comunicado desse tipo enviado ao órgão por proprietár­ios de bens tombados no estado.

Os casarões da Soledade estão em visível estado de abandono. O diretor geral da Codesal, Gustavo Ferraz, explica que as intervençõ­es em imóveis tombados são caras e que é preciso que haja uma política pública efetiva por parte dos entes tombadores. “Ninguém deixa de fazer uma reforma em sua casa porque não quer, mas porque não tem dinheiro”. O coordenado­r do IGHB explica que a manutenção de casarões é cara porque tem que obedecer a padrões técnicos rigorosos. “Tudo tem que passar pelo crivo de órgão de patrimônio. Não é qualquer profission­al que é capaz de fazer essa intervençã­o. Tudo isso demanda custos altos”, explica.

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