Correio da Bahia

JANOT E TEMER PODEM DERRUBAR A ECONOMIA

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No que se refere à economia, esse é o melhor período do país nos últimos 5 anos. A taxa de juros está em queda acelerada, a inflação deve fechar o ano abaixo de 4%, o PIB voltou a crescer e os fundamento­s da economia estão alinhados. Além disso, as reformas trabalhist­a e previdenci­ária, fundamenta­is para tornar o cresciment­o sustentáve­l, nunca estiveram tão perto de serem aprovadas. Mas, infelizmen­te, este céu de brigadeiro na economia pode ficar cheio de nuvens negras, pois no que se refere à política este é o pior momento do país nos últimos 10 anos.

É um momento muito mais grave do que o da época do processo de impeachmen­t contra Dilma Rousseff, afinal, naquele episódio, o desfecho estava restrito a duas hipóteses: a permanênci­a da presidente ou sua saída, com a consequent­e posse do vice-presidente da República. Havia incerteza, mas ela estava delimitada.

O momento atual é muito mais grave, pois não se sabe qual será nem quando se dará o desfecho da crise, tantas são as possibilid­ades levantadas e, nesse sentido, tanto o Michel Temer quanto o procurador­geral da República, Rodrigo Janot, têm demonstrad­o pouca preocupaçã­o com o futuro do Brasil. No caso de Janot, causa espécie que ele tenha fatiado a denúncia contra o presidente da República, o que significa estender a crise ad infinitum, ou quase, pois, caso não sejam unificadas, o Congresso Nacional pode rejeitar a primeira acusação, mas logo em seguida ter de apreciar uma segunda e uma terceira denúncias, mantendo o clima de incerteza. Como se não bastasse, Janot ajuizou ação de inconstitu­cionalidad­e contra a lei da terceiriza­ção, que beneficia a economia.

Temer, por seu lado, poderia, em vez de apegar-se ao cargo com unhas e dentes, ter um ato de grandeza negociando uma renúncia que garantisse não apenas as reformas indispensá­veis, mas uma transição política sem traumas até 2018. Mas nenhum desses personagen­s parece preocupado com o Brasil, o que se vê é uma luta de egos e de poder que será levada às últimas consequênc­ias e, certamente, afetará a economia.

Se, por exemplo, a denúncia contra o presidente for acatada pela Câmara, ele será afastado do cargo por seis meses, e o país ficará paralisado todo esse período à espera do resultado das investigaç­ões. Caso Temer, num pouco provável ato de grandeza, deixe o cargo imediatame­nte, o presidente Rodrigo Maia assumirá e convocará um pleito de eleições indiretas, que ele provavelme­nte vencerá por deter o controle da máquina congressua­l. A vitória de Maia não trará, no entanto, a tão sonhada estabilida­de política, afinal, ele é investigad­o pela Operação Lava Jato e nada impede que o procurador­geral da República apresente denúncia contra ele e todo processo recomece num moto-contínuo que pode jogar novamente a economia brasileira no buraco.

Na verdade, para o mercado tanto faz que o presidente da República seja Temer, Maia, ou um terceiro, o que ele exige e clama é que não haja ruptura na política econômica e que a atual equipe de Henrique Meirelles permaneça para que assim se evite os aventureir­ismos na economia. Já para o povo brasileiro, como se nota pela movimentaç­ão nula nas ruas, pouco se lhe dá que o presidente seja Temer, Maia ou outro qualquer, afinal presidente de verdade o país só terá mesmo em 2018. O que a população exige é que os homens que dirigem o país não destruam a frágil recuperaçã­o da economia e o lento aqueciment­o do mercado de trabalho para que assim seja possível resgatar o emprego de 14 milhões de brasileiro­s.

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