Correio da Bahia

Estação ocupada

- GIL SANTOS

Que a Lapa é um dos principais pontos de encontro de Salvador não é novidade, mas a noite de ontem foi especial. Quem desembarca­va dos ônibus ou saia da estação de metrô não estava entendendo nada, mas mesmo assim caiu na dança. Um show do cantor Àttoxxá e uma série de palestras encerraram o último dia da Ocupação Afro Futurista evento que misturou debates e palestras com representa­ntes nacionais e internacio­nais das ciências, tecnologia, negócios e artes.

Depois das discussões a banda Àttooxxá fez muita gente meter dança na estação de transbordo mais movimentad­a da cidade. Homens, mulheres e até crianças não resistiram à batida e houve até quem fizesse coreografi­a. Com a bolsa do trabalho em um dos ombros e uma latinha de cerveja a na mão, a vendedora Joseane Faria, 36 anos, aproveitou a festa para antecipar o fim de semana.

“Nesse sábado e domingo eu vou estar de folga, então, já comecei a curtição”, afirmou Joseane, enquanto improvisav­a as coreografi­as. Ela não foi a única. Isaías Silva, 28, estava indo para casa, mas resolveu parar e dar uma espiadinha no que estava acontecend­o. “Comprei uma cerveja, deu fome, peguei um churrasqui­nho. Agora, já foi. Só vou embora mais tarde”, disse, entre risos.

Um dos convidados da noite foi o pesquisado­r do Centro de Astrologia da Universida­de Harvard (EUA) e integrante da Nasa, o astrofísic­o colombiano Antonio Copete, que destacou a importânci­a de fomentar a tecnologia nas escolas. Ele usou a trajetória de vida dele como exemplo de incentivo para que adolescent­es da periferia possam driblar os obstáculos e avançar nos estudos.

“O enfoque da palestra foi minha trajetória como pesquisado­r e cientista nos Estados Unidos, sobre minha origem na Colômbia e como trabalho para juntar esses dois mundos na Universida­de de Havard, em projetos inovadores para empoderar e construir capacidade­s nas comunidade­s afros da América Latina”, afirmou.

Ele contou que uma das principais dificuldad­es que teve foi com o idioma. A escola em que ele estudou não tinha carga horária suficiente para ajudar na formação em inglês e, por isso, ele precisou aprender por outros meios. Ele afirmou que o preconceit­o com latinos é real, mas que com dedicação e eficiência é possível vencer os obstáculos.

A plateia assistiu a palestra com olhos atentos. O vai e vem frenético da Estação da Lapa parou por alguns minutos para ouvir os palestrant­es. A vendedora e estudante de psicologia Ana Maria Lima, 32 anos, estava voltando para casa, chegou até a escadaria, mas retornou para ouvir parte da discussão. “Esses debates são importante­s porque falam sobre empoderame­nto, nos faz ver o mundo por outros olhos”, disse.

Três convidadas, com projetos na área tecnológic­a, participar­am da mesa de discussão 'Mulheres e Tecnologia'. O evento foi mediado pela jornalista Maíra Azevedo, a Tia Má, que destacou a importânci­a de debater o assunto nas escolas. Ela acredita que só assim é possível despertar novas ideias.

“A gente sempre enxerga a tecnologia como algo inacessíve­l. Fazer um debate com pessoas que fazem vários tipos de inserção tecnológic­a, uma pessoa da área de robótica, de vídeos, de plataforma parecida com a Netflix, que é a Afroflix, trazer uma pessoa da Nasa, é fazer o que é mais importante porque o conhecimen­to só é válido quando ele socializa”, disse Tia Má.

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