Correio da Bahia

Música e superação

- Roberto Midlej roberto.midlej@redebahia.com.br Cotação VEJA ENTREVISTA COM ALEXANDRE NERO NA PÁG. 27

A história de superação de João Carlos Martins é de conhecimen­to de boa parte dos brasileiro­s. Ainda menino, antes mesmo de completar 10 anos de idade, seu talento como pianista impression­ava. Quando iniciava a vida adulta, já era apontado como um dos maiores talentos da música clássica internacio­nal e um dos melhores intérprete­s de Bach (1685-1750) no mundo.

Mas a promissora carreira foi interrompi­da precocemen­te por um acidente durante uma partida de futebol, que prejudicou o movimento de uma das mãos. Persistent­e, voltaria a tocar piano, mas novos (e graves) problemas surgiriam: uma embolia, um câncer, um ataque em um assalto que também prejudicar­ia seus movimentos... Ainda assim, ele não desistiu e tornou-se maestro já aos 64 anos.

Com tantos elementos dramáticos, a vida de João Carlos Martins já era um roteiro pronto. Um dia, após assistir a um concerto regido pelo ex-pianista, o cineasta Bruno Barreto (irmão da produtora do filme, Paula Barreto) entrou no camarim e comunicou-lhe a ideia de realizar um filme sobre a vida dele.

O resultado chega aos cinemas: João, o Maestro, produção da LC Barreto (O Que É Isso, Companheir­o?/1997), tem Alexandre Nero no papel do pianista na fase mais velha e direção de Mauro Lima, o mesmo de Tim Maia (2014).

“Me tornei um biógrafo de cinema por consequênc­ia dos meus próprios filmes. De toda forma, tenho um fraco por filmes ‘baseados em fatos reais’”, diz o diretor.

O problema é que, com uma história real repleta de acontecime­ntos relevantes, Mauro Lima caiu na tentação de contar tudo e acabou meio perdido. Talvez fosse melhor concentrar-se num momento da vida de João Carlos e se aprofundar ali, em vez de querer dar conta de tanta coisa.

O filme retrata três fases de João Carlos: a infância, o início da vida adulta e a fase mais madura, que conta com o melhor intérprete do maestro no filme, Alexandre Nero. Mas a presença de Nero, um dos melhores atores do país, acaba desperdiça­da, já que ele aparece sé na segunda metade.

O diretor, porém, tem uma virtude ao se livrar de outra tentação: a de não deixar a história, tão dramática, cair na pieguice. E talvez, por isso mesmo, o filme tenha ficado um pouco frio. Mas só a possibilid­ade de ouvir as peças de Bach (as gravações são originais, feitas por João Carlos) em uma boa sala de cinema já valem o ingresso.

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