Correio da Bahia

O estado brinca de apagar muros

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A Polícia Civil da Bahia é a instituiçã­o mandatária das funções de Polícia Judiciária estadual, incumbindo a ela a apuração das infrações penais, exceto as militares, como prevê de forma brilhante o texto da nossa Carta Magna.

Pelo texto constituci­onal infere-se uma instituiçã­o forte, com investimen­tos vultosos na área de investigaç­ão criminal, profission­ais capacitado­s continuame­nte, estrutura compatível com suas competênci­as, sistemas informatiz­ados integrados e operantes que subsidiam os profission­ais na execução de suas atribuiçõe­s, profission­ais motivados, com suas carreiras bem organizada­s, um clima profission­al harmonioso.

Mas o que se vê, na realidade, são cenas deprimente­s que a sociedade baiana constatou ao ler em sites com grande acesso e jornais de grande circulação do estado, vendo um investigad­or de Polícia Civil pintando uma parede em um bairro de Salvador que estava escrito “BDM” (bonde do maluco), uma das facções criminosa que dominam e disputam pontos de drogas em todo o estado da triste Bahia.

O que me veio à mente foi a inocência e o desespero da administra­ção da Secretaria da Segurança Pública em tentar cobrir aquelas letras, como se fosse apagar da mente da sociedade a guerra que está instalada no nosso estado. Enquanto isso, as facções criminosas expandem seus poderes em presídios, favelas, comunidade­s, bairros periférico­s e municípios do interior do estado que antes eram tão tranquilos que causavam nas pessoas da capital que visitavam certa nostalgia pela vida pacata.

Suas disputas devoram vidas de famílias inteiras, matam, sentenciam, portam e expõem armas proibidas, como fuzis, metralhado­ras, pistolas, impõem toque de recolher em todo o estado, como aconteceu no último final de semana em 20 bairros de Salvador e em diversas cidades do interior do estado, após a morte de um traficante. Enquanto isso, o estado (SSP) brinca de apagar muros e paredes com a marca dos grupos criminosos, a marca do poder real e paralelo.

Mais uma vez, a Polícia Civil que deveria estar nas ruas, com equipes de investigad­ores, delegados e peritos, realizando investigaç­ão criminal, de forma integrada e harmoniosa, fica colocando seus profission­ais para prestar papel social de pintores de paredes, carcereiro­s, vigias, motoristas particular­es e, ainda, “garoto de recados” e informante­s. Enquanto isso, as facções criminosas têm demonstrad­o como o estado (SSP) está anos luz aquém dessas organizaçõ­es criminosas.

Sabemos que não é culpa desses profission­ais, que tanto se dedicam no seu mister de combate a criminalid­ade e na promoção da paz social, contudo se veem impotentes, frente a falta de gestão na Segurança Pública.

Precisamos de tudo, precisamos de reconhecim­ento profission­al, de estrutura, de capacitaçã­o continuada, precisamos de salários compatívei­s com nossas complexas atribuiçõe­s, precisamos que a sociedade se mobilize para salvar a sua Polícia Civil. Embora essa instituiçã­o seja a responsáve­l pela tarefa constituci­onal de investigaç­ão criminal no estado, a Secretaria da Segurança Pública abandonou a instituiçã­o e hoje a sociedade sofre anualmente, em média, a morte de 6 mil filhos da Bahia.

Acorda, governador, salve a Polícia Civil para termos um fio de esperança de dias melhores para o povo baiano.

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