Correio da Bahia

Nova Constituin­te assume poderes do Parlamento na Venezuela

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CARACAS A Assembleia Nacional Constituin­te (ANC) da Venezuela, totalmente formada por aliados do presidente Nicolás Maduro, decidiu ontem, por unanimidad­e, assumir as competênci­as do Parlamento, controlado por opositores ao chavismo. A decisão foi anunciada após o conselho do Parlamento venezuelan­o não comparecer à reunião convocada pela ANC. Os opositores consideram a Constituin­te ilegítima e um instrument­o do governo para consolidar uma ditadura no país. Mediante decreto, a Constituin­te aprovou “assumir as competênci­as para legislar sobre as matérias voltadas diretament­e para garantir a preservaçã­o da paz, da segurança, da soberania, do sistema socioeconô­mico e financeiro, dos propósitos do Estado e da preeminênc­ia dos direitos dos venezuelan­os”. O comunicado da ANC foi enviado à Câmara dos Deputados. Em resposta, Julio Borges, presidente da Câmara e opositor de Maduro, assinou uma carta aberta, na qual denuncia que a ANC “não é uma autêntica Assembleia Constituin­te, mas um instrument­o que pretende perpetuar o governo de Maduro”. No comunicado, o Parlamento expõe as razões pelas quais repudia a ANC, instaurada no último dia 4 de agosto, e que já destituiu a ex-procurador­a-geral Luísa Ortega Díaz, também opositora de Maduro. O Parlamento é o único dos cinco poderes reconhecid­os na Constituiç­ão da Venezuela que ainda não se subordinou à Constituin­te, como fizeram o próprio Nicolás Maduro e os titulares dos setores Judiciário, Eleitoral e do Cidadão. Ainda ontem, o Parlamento rejeitou o que chamou de sua “dissolução” e convocou os deputados e o povo para uma sessão hoje. “Nós, da Assembleia Nacional (AN) e os deputados da Mesa da Unidade Democrátic­a não reconhecem­os nem acatamos a dissolução que Maduro pretende nos impor através da fraudulent­a ANC”, indicou Julio Borges, no Twitter. Em resposta, a presidente da Assembleia Nacional Constituin­te, a ex-chanceler Delcy Rodríguez, afirmou que assumir os poderes do Parlamento não implica em uma dissolução. Borges considerou que o decreto da ANC procura repetir as sentenças emitidas em março pelo Tribunal Supremo, que suprimiam parcialmen­te a imunidade dos legislador­es, com a Sala Constituci­onal assumindo as competênci­as da Câmara. Foi essa decisão que deu início à onda de protestos em Caracas, que resultou em choques quase diários com forças do governo e deixou 125 mortos.

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