Correio da Bahia

Movimentos cobram resposta sobre ação

- SAULO MIGUEZ

cou que os policiais estavam em perseguiçã­o a dois criminosos que faziam parte de um grupo que atirou contra duas guarnições. “Tivemos a informação de que dois marginais tinham corrido em direção ao terreiro. Encontrara­m indícios”, justificou ele.

O major Reis também reconheceu a perseguiçã­o sofrida pelos adeptos do candomblé. “Historicam­ente, sabemos que a PM foi usada para reprimir o candomblé, mas hoje é diferente. (A invasão) Foi uma decorrênci­a da ação de ontem”, afirmou ele.

O coordenado­r do Observatór­io de Segurança Pública da Bahia, João Apolinário da Silva, disse que é preciso cautela para avaliar as ações policiais que envolvam instituiçõ­es religiosas. Segundo ele, em perseguiçõ­es, os policiais precisam agir para evitar que o pior aconteça, visando a segurança pública. Mesmo assim, ele destaca que a polícia sempre foi, a mando do Estado, a força que tentava coibir a livre manifestaç­ão da religião negra. “De la pra cá, tivemos mudanças, mas a interpreta­ção sociológic­a continua a mesma”, disse o especialis­ta.

REPAROS

De acordo com o major Paulo Peixoto, da Superinten­dência de Prevenção à Violência da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), os danos causados pelos policiais serão reparados. “Faremos o conserto do patrimônio e a atitude dos policiais não é a orientação da secretaria. Tudo será apurado”, garantiu o major.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que a Corregedor­ia da PM está apurando a denúncia.

A diretora de patrimônio da Fundação Gregório de Mattos, Milena Tavares, disse que as providênci­as serão cobradas. “Vamos encaminhar um ofício aos órgãos competente­s para que isso não aconteça novamente. O terreiro é um templo tombado, e isso foi um ato violento”, avaliou Milena.

Walmir França, coordenado­r do Centro de Referência de Combate ao Racimo e à Intolerânc­ia Religiosa Nelson Mandela, afirmou que outros órgãos também acompanhar­ão a apuração. “A secretaria vai notificar o Ministério Público Estadual (MPE) e a Defensoria Pública para acompanhar a investigaç­ão.”

“Eles jamais colocariam a arma na cara de um padre como colocaram na minha”, afirmou Doté Amilton, destacando que houve preconceit­o por parte dos militares por se tratar de um terreiro de candomblé. Leonel Monteiro, ogã do terreiro Ilê Axé Ewe, membro da Associação Brasileira de Preservaçã­o da Cultura Afro Ameríndia (Afa) e novi nukundeji do terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, definiu o que se passou no terreiro do Curuzu como “racismo religioso ou institucio­nal”.

“Quando se trata de terreiro, o aparelho do poder público age de modo a não respeitar os direitos humanos. Não são todos, mas ainda há profission­ais de diversas áreas que ainda agem dessa forma”, afirmou.

Ainda de acordo com Monteiro, o governo precisa investir em programas de capacitaçã­o e esclarecim­ento para que seus agentes tomem conhecimen­to do que são as religiões afros. “Como é que eu posso respeitar o que eu não conheço? A grande falha governamen­tal é não ter uma qualificaç­ão específica no trato com comunidade­s tradiciona­is”, disse ele.

Monteiro afirmou também que a Defensoria Pública e o Ministério Público Estadual, através da promotora Lívia Vaz, já instaurara­m procedimen­to de apuração do caso.

O prefeito ACM Neto cobrou uma resposta sobre a ação dos policiais militares no terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe: “Me parece inquestion­ável que a polícia tenha que prestar esclarecim­entos do que ocorreu. Ali é um verdadeiro templo religioso que foi alvo de um ato de violência que precisa de explicação imediata”, disse ele, durante a assinatura da ordem de serviço da Unidade de Saúde da Família em Pirajá.

Para o frei Jorge Rocha, representa­nte da Igreja Católica na Comissão Arquidioce­sana de Ecumenismo e Diálogo Interrelig­ioso (Caedi), só é possível estar bem com Deus estando em paz uns com os outros.

“Na nossa prática religiosa devemos conservar as semelhança­s e refletir as diferenças a partir dos pontos comuns, que são a vida, Deus e as ideias que nós temos de Deus não devem nos separar e sim nos unir”, disse ele.

Ele lembrou ainda que igualdade é um direito de todos, garantido pela Constituiç­ão. “Seja qual for a religião, ela merece respeito, mesmo porque somos mais do que uma manifestaç­ão religiosa e, quando eu respeito o outro, estou respeitand­o o meu direito de existir no mundo”, frisou.

O terreiro na Liberdade foi o primeiro a ser tombado com base na Lei 8.550/2014, de Preservaçã­o do Patrimônio Cultural do Município de Salvador. A oficializa­ção ocorreu em 15 de janeiro de 2016 pela prefeitura.

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Um dia depois da invasão, policiais e integrante­s da Fundação Gregório de Mattos se reúnem no terreiro

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