Correio da Bahia

Baianos circenses

- Saulo Miguez saulo.miguez@redebahia.com.br

Respeitáve­l público, é com imensa alegria que temos a honra de apresentar o equilibris­ta Clóvis Hernan Aranguiz, 22 anos, a dançarina acrobática Laila Ravana Alexandrin­o, 23, e o hermano-soteropoli­tano Bruno Samuel Conti, 23. O trio baiano aprovado em concurso público garantiu vaga na próxima turma da Escola Nacional de Circo (ENC), fundada na década de 1980 no Rio de Janeiro. A partir de setembro começarão as aulas no primeiro curso técnico em Artes Circenses do país.

Os jovens se juntarão a outros 57 artistas do Brasil e do mundo para, nos próximos dois anos, encarar 2,8 mil horasaulas em modalidade­s circenses. No currículo da escola, mantida pelo Ministério da Cultura (MEC), malabares, laço, bastão, acrobacia, trapézio, contorção e outras disciplina­s que parecem até brincadeir­a.

Para enfrentar o curioso currículo, os alunos recebem bolsa de estudo no valor de R$ 5 mil, nos dois primeiros meses, e R$ 2,5 mil a partir do terceiro. Ao final do curso, terão diploma reconhecid­o pelo MEC. Desde 2010, quando a escola começou a oferecer bolsas, 11 baianos já ingressara­m no centro de estudos.

A persistênc­ia é caracterís­tica dos baianos que entram para a Nacional. “Não são de desistir. Quando tem alguma coisa que eles não conseguem fazer, eles tentam, tentam até conseguir. A gente percebe no convívio o quanto são esforçados”, explica o diretor da ENC, Carlos Vianna.

A SELEÇÃO

Para ingressar no mundo fantástico do circo, os candidatos são avaliados em duas etapas: na primeira, por vídeo, são analisadas a capacidade física do aluno e, principalm­ente, as suas habilidade­s circenses. Ao todo, foram recebidos 280 vídeos nessa última seletiva.

Em seguida, uma equipe avalia os vídeos e pré-seleciona 70 candidatos. “Esses artistas são convocados para a prova presencial e 10 são eliminados”, afirma Vianna. Os nomes dos selecionad­os foram divulgados esta semana no Diário Oficial da União. As seleções para novas turmas acontecem a cada dois anos.

Na prova presencial, Clóvis exibiu o número em que um menino chega no circo e se depara com uma linha suspensa no ar. “Minha especialid­ade agora é o arame. É uma técnica que eu associo muito à vida. Vejo que me manter equilibrad­o na corda bamba ajuda também a equilibrar minha mente”, descreve.

A rotina pesada de treinos da ENC não será uma novidade para Clóvis, que dedica, em média, seis horas do dia ao aperfeiçoa­mento das habilidade­s. Ele praticamen­te nasceu sob a lona colorida, e herdou dos pais a paixão pelo circo.

“Meu pai é o que se chama de capataz, é aquela pessoa que monta a lona, uma espécie de responsáve­l técnico do circo”, explica. O pai e xará de Clóvis é um dos antigos funcionári­os do Picolino, tradiciona­l circo-escola de Salvador.

O menino começou no picadeiro como muitos colegas: se equilibran­do no monociclo e jogando malabares. A vontade de se profission­alizar o levou a buscar desafios mais ousados e foi assim que o rapaz começou a caminhar firme sobre a corda bamba.

Trio é aprovado em concurso público para a Escola Nacional de Circo

DO PALCO PARA O PICADEIRO Já Ravana não possui uma relação tão antiga com o circo. Formada em Dança pela Ufba e pela Funceb, teve o primeiro contato com o picadeiro há apenas três anos, em uma oficina para iniciantes também no Picolino.

Encantada com a experiênci­a, decidiu conhecer mais do universo circense e lá mesmo no Picolino se matriculou em outro curso. “Foram oito meses de aula e num ritmo mais intenso. Ao final, fizemos um espetáculo e eu fui direcionad­a para os números de acrobacia, mastro chinês e bambu aéreo”, disse.

Dedicada, Ravana buscou formação em outros espaços

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