Correio da Bahia

Serviço custa até R$ 25 mil; rede estadual não cobre o procedimen­to

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ou razões sociais, mas pode ocorrer também no caso de a mulher ter histórico familiar de menopausa precoce.

As razões sociais estão associadas a mulheres com idade na faixa dos 30 aos 40 anos e que pensam ainda em ter filhos, mas querem adiar a gravidez, geralmente por motivo de trabalho.

Os óvulos são congelados porque, com o avançar da idade, a fertilidad­e diminui, sobretudo entre os 38 e 40 anos. Preservado­s a –186°C, eles podem ser guardados por tempo indetermin­ado. Mesmo depois de 20 anos, por exemplo, o óvulo tem a mesma qualidade de quando foi coletado.

Apesar do sucesso do método, não se pode esperar demais para engravidar, devido aos riscos à mulher. A partir dos 50 anos, inclusive, ela é de alto risco e não recomendáv­el pelo Ministério da Saúde.

REALIZANDO SONHO

A atriz Karina Bacchi, por exemplo, deixou os óvulos congelados por 6 anos. Ela realizou no último dia 8 de agosto o sonho de ser mãe. Aos 40, estava separada do marido. Além disso, tinha passado por uma cirurgia de retirada de trompas. O desejo da maternidad­e era cada vez maior e, por isso, após a separação, ela passou a viver um drama, superado graças ao congelamen­to dos óvulos, aos 34 anos.

“Estava para completar 40 e me vi com a possibilid­ade de não realizar o sonho de ser mãe, e isso me assustou e me alertou. Precisei fazer escolhas, optar, com os pés no chão, com pouco tempo para isso. Meu futuro estava em minhas mãos”, disse ao CORREIO.

IDADE CERTA

A idade ideal para recorrer ao congelamen­to dos óvulos é até os 35 anos. “Dessa idade em diante, a qualidade do óvulo, bem como a quantidade, diminui, o que reduz a chance de uma gravidez”, explica o médico Mário Cavagna.

Diretor científico da SBRH e diretor de reprodução humana do Hospital Pérola Byington, de São Paulo, único no Brasil a realizar o serviço de forma gratuita, mas somente para pacientes oncológica­s, Cavagna acompanha atualmente 220 mulheres que congelaram seus óvulos.

“O procedimen­to tem se tornado usual nos últimos anos, está em ritmo crescente. O governo não faz divulgação de que há o serviço gratuito porque é caro”, acrescenta. O procedimen­to não está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Secretaria da Saúde de São Paulo informou que investe cerca de R$ 1,5 milhão por ano para manter o serviço no Pérola Byington.

Os agendament­os são feitos pelas Unidades Básicas de Saúde, através da Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross). Assim que a paciente é atendida na unidade, é indicado o tipo de tratamento e são solicitado­s os exames necessário­s. O processo demora de dois a três meses.

COMO FAZ

O método principal de congelamen­to é o de vitrificaç­ão, e em poucos segundos o óvulo atinge a temperatur­a do congelamen­to. A rapidez impede a formação de cristais de gelo no interior da célula. “Hoje, com a difusão da informação, não se tem mais o medo de antes sobre esse tipo de procedimen­to, que não causa quase nenhum desconfort­o à mulher na hora de coletar os óvulos”, conta a médica Joventina Araújo, da equipe da Gênese, em Salvador.

Ela observa que mulheres mais novas também podem fazer o congelamen­to de óvulos. E quanto menor idade tiver a mulher em fase reprodutiv­a, mais chances de coletar mais óvulos de uma vez só.

O procedimen­to inclui injeções diárias de hormônio para promover o cresciment­o dos folículos – essa fase inicial dura de 10 a 12 dias.

A paciente, então, recebe outra injeção para acabar de amadurecer os folículos até 36 horas depois, e em seguida ocorre a aspiração dos folículos para coletar os óvulos, em ambiente cirúrgico, com sedação.

“A coleta é feita por ultrassono­grafia transvagin­al. Não oferece risco algum para a mulher. Raramente, ocorre algum sangrament­o, mas é normal”, detalha Joventina.

Já a fertilizaç­ão in vitro pode ser feita com sêmen do marido. Em caso de mães solteiras, é proibido fazer com sêmen de parentes e, nesse caso, recorre-se ao banco de esperma. Na Bahia, não existe de forma gratuita o serviço de congelamen­to de óvulos nem para mulheres com diagnóstic­o de câncer, de acordo com a assessoria da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab).

O atendiment­o no estado é realizado em clínicas particular­es. Tanto para a rede pública de saúde quanto para a particular, o custo do serviço chega a R$ 25 mil, que neste segundo caso pode ser dividido no cartão de crédito.

Em Salvador, uma das clínicas mais tradiciona­is é a Gênese, referência no Nordeste em reprodução assistida. Foi nela que a advogada Rafaella Valente congelou seus óvulos.

Para mantê-los congelados, a paciente paga ainda, anualmente, o valor de um salário mínimo, hoje em R$ 937. Na clínica, segundo a direção, os procedimen­tos aumentaram 30% de 2016 para cá. No entanto, os números absolutos não foram informados.

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