Correio da Bahia

Ao alcance das braçadas

- Ivan Dias Marques ivan.marques@redebahia.com.br

A paciência é uma virtude que poucos adolescent­es de 15 anos costumam ter. Na idade, é comum a ansiedade pelas novas descoberta­s, pela pressa em viver cada segundo de forma intensa, principalm­ente, quando se está fora da escola. Não é o caso da nadadora baiana Aricia Pérée.

De braçada em braçada, aproveitan­do todo tempo que pode estar dentro da piscina, ela vai, com paciência, batendo recorde atrás de recorde e já chama a atenção de outros clubes do país. A prova é que, na quinta-feira, ela entrará na piscina da Universida­de de Indiana, em Indianápol­is, nos Estados Unidos, para disputar as eliminatór­ias dos 800m livre do Mundial Júnior, uma competição - detalhe - para meninas até dois anos mais velhas que ela (sub-17 feminino e sub-18 masculino).

“Sempre fui pé no chão, paciente. Quando a ansiedade é grande, estraga bastante. O segredo é superar seus limites em cada treino, perceber a melhora, que, de pouco em pouco, você chega lá”, diz Aricia, ao lado da piscina da Aceb, no Costa Azul, onde faz parte do treinament­o. A outra parte é no Centro Olímpico de Natação, no Bonocô.

A adolescent­e conquistou uma das 16 vagas brasileira­s na disputa do Troféu Maria Lenk, no início de maio. Marcou o melhor tempo da vida na prova, 8min55s93. “É uma competição que vai todo mundo. Foi uma abertura também para outros clubes me conhecerem. Vários foram falar com (o treinador Rogério) Arapiraca. Ele falou para meus pais que vários clubes vieram falar com ele, que estão de olho em mim”, diz, sorrindo.

Mas a intenção de Aricia, a priori, é seguir treinando em águas baianas, até porque tem um exemplo bem pertinho. “Allan do Carmo prova todo dia pra gente que pode dar certo, com uma equipe bem selecionad­a aqui na Bahia. Ele é um exemplo pra gente todos os dias que nosso sonho é alcançável. Nosso sonho treina aqui com a gente todo dia. É difícil, precisa de muito esforço, mas é possível”, garante. Allan do Carmo também treina na Aceb e com o mesmo treinador. TÓQUIO-2020

Aricia costumava nadar provas mais rápidas, tanto que, aos 10 anos, liderou o ranking brasileiro dos 100m, 200m, 400m e 800m. Mas foi evoluindo mais nas distâncias maiores (800m e 1.500m). Talvez até pela personalid­ade. “Prefiro sentir a prova, controlar os batimentos, fazer força na hora certa, ter toda estratégia. É meio engraçado, mas eu gosto muito de nadar, de passar muito tempo dentro da água e 50m é muito rápido. Sou paciente, tranquila”, ri.

A paciência e tranquilid­ade da nadadora são caracterís­ticas muito valorizada­s no lugar onde ela pretende estar daqui a três anos: Tóquio. É lá que acontecerã­o os Jogos Olímpicos de 2020 e, embora seja aconselhad­a a não abrir o jogo (“para não parecer desumilde”), é seu plano A.

“É isso que eu quero, que eu vou correr atrás. Se por algum motivo eu não conseguir, vou me sentir uma atleta frustrada porque é o que quero conseguir. Pode ser que não seja Tóquio, seja 2024 ou 2028. Quero conseguir em algum momento da minha carreira chegar no máximo, e, pra mim, o máximo é a Olimpíada”, explica.

A idade, claro, não será problema. Diversos atletas, incluindo a americana Katie Ledecky, recordista mundial dos 800m livre, e o próprio Allan disputaram Jogos Olímpicos com menos que os 18 anos que Aricia terá em 2020.

Aliás, os 15 anos não parecem ser pouco para a nadadora decidir o que quer da vida. Adolescent­es, em geral, são colocados contra a parede aos 17 anos, ao escolher um curso superior. Antes disso, ela já escolheu que ser atleta é seu caminho. ”Eu decidi que esse é meu sonho e eu vou correr atrás dele”, diz a jovem, que começou aos 6 anos na natação por recomendaç­ão médica para tratar um início de asma.

Conheça a baiana de 15 anos que vai ao Mundial de olho em Tóquio-2020

CHOCOLATE

Para ser atleta, Aricia sabe, é preciso abrir mão de muita coisa, ainda mais na idade dela. A rotina começa às 4h, com treinament­o. Depois, escola. À tarde, mais treino. “Minhas amigas ficam com raiva de mim porque eu faltei todas as festas de 15 anos que tiveram. Elas entendem, mas é meio chato não poder ir porque você está viajando ou tem que descansar ou focar em determinad­a competição”, revela.

No entanto, ela tem consciênci­a de que a dedicação será recompensa­da. “A melhor parte é quando você chega na competição, vê seu nome no placar, vê o resultado e vê que tudo valeu a pena. Não tem nenhuma sensação que se compare a isso. O resto dos adolescent­es pode achar que eu estou perdendo as festas, mas eles nunca vão saber como é essa sensação. Não abriria a mão disso por nada”, assegura.

Outra sensação muito boa é quando pode comer doce. “Este ano eu fugi um pouco da dieta, mas a gente achou umas receitas de sobremesas boas, que dá pra eu fazer e que são saudáveis. É a melhor parte do dia: eu, antes de treinar, posso comer um pedacinho daquela receita”, se diverte. “O chocolate 70% cacau me salva!”.

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 ??  ?? Aos 15 anos, Aricia Pérée treina na piscina do Centro Olímpico da Bahia duas vezes na semana para melhorar seus resultados e conseguir vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020
Aos 15 anos, Aricia Pérée treina na piscina do Centro Olímpico da Bahia duas vezes na semana para melhorar seus resultados e conseguir vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020

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