Correio da Bahia

A internet em disputa

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Antes mesmo de acontecer a primeira reunião da nova composição do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), uma rápida mobilizaçã­o das sociedades científica­s provocou um intenso debate sobre o futuro da internet no Brasil e a composição do próprio CGI.

Isso porque, de forma inesperada e de maneira unilateral, o governo federal, através do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicaçã­o (MCTIC), lançou uma consulta pública para promover uma reestrutur­ação do CGI. Mais golpe nesse acúmulos de golpes que estamos vivendo no Brasil recente.

Fruto da mobilizaçã­o das sociedades científica­s, uma Nota Pública foi lida logo na abertura da reunião do CGI ocorrida na última sexta feira (18.8.17). Após intensa discussão, chegou-se a uma solução de consenso, que mantém a Consulta já aberta, mas devolve ao plenário do CGI a responsabi­lidade de conduzir as demais etapas do processo, tendo o mesmo já se comprometi­do a ampliar esse debate. Atentos vamos ficar para que isso aconteça de fato.

Importante destacar que não fomos e não somos contrários a consultas públicas, mas sabemos muito bem que, se as mesmas não forem bem elaboradas e que princípios democrátic­os de participaç­ão e de sistematiz­ação dos resultados não forem seguidos, o risco de termos uma legislação que contrarie os interesses dos cidadãos será grande.

Por isso a importânci­a de dar ao CGI a liderança nesse processo, já que ele tem uma composição multisseto­rial com representa­ção de todos os interessad­os na questão.

Mais ainda, percebemos o quanto a mobilizaçã­o das sociedades científica­s afiliadas à SBPC (Socicom, Esocite, ABCiber, Abrapcorp, ABPEducom, Anpae, Ancib, Anped, Cbce, Intercom e Ulepicc-Br) foi importante para trazermos para o CGI esse necessário de debate, uma vez que a internet evoluiu muito ao longo dos anos e isso pode demandar reestrutur­ações e um pensar maior sobre o próprio funcioname­nto do CGI. No entanto, não podemos aceitar a pressão das grandes operadoras de telecomuni­cações que, com o objetivo de facilitar a implantaçã­o de seus modelos de negócios, transforma­ram a internet em um grande espaço de disputa, como aliás já havíamos acompanhad­o de perto quando do debate sobre o Marco Civil da Internet.

Essa é uma disputa intensa e cotidiana e a forte e rápida articulaçã­o das 12 sociedades científica­s que participar­am do processo eleitoral que levou os professore­s Marcos Dantas (UFRJ) e Sérgio Amadeu da Silveira (UFABC) a integrarem o novo colegiado do CGI foi crucial para essa parcial vitória.

Mais do que tudo, a academia e os acadêmicos precisam compreende­r e assumir, cada vez mais, o papel de intelectua­is públicos, atuando de forma ativista na discussão e na defesa do público, da ética e da democracia.

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