Correio da Bahia

Patrimônio saqueado

- Bruno Wendel e Saulo Miguez mais@correio24h­oras.com.br

Dois carrinhos de compras estavam estrategic­amente posicionad­os, só aguardando os produtos que seriam transporta­dos. Até então, nada de anormal, se o local de “compras” não fosse o Centro de Convenções da Bahia, administra­do pelo governo do estado, que desabou parcialmen­te em setembro do ano passado. Um dia após ladrões serem flagrados - e liberados - pela polícia, em posse de aparelhos de ar-condiciona­do do local, o CORREIO flagrou mais saques na manhã de ontem.

Desta vez, três pessoas foram encaminhad­as por policiais militares para a 9ª Delegacia (Boca do Rio). Os furtos acontecera­m em momentos distintos e até uma picape foi usada pelos ladrões, conforme flagrante feito pelo CORREIO.

De acordo com a delegada Rogéria Araújo, titular da 9ª Delegacia, dois dos três suspeitos foram autuados em flagrante e permanecem detidos. Eles carregavam dois sacos cheios de fios de cobre retirados do local. “Eles vão ser apresentad­os na audiência de custódia desta terça (hoje) e a Polícia Técnica irá pesar o produto do roubo”, informou a delegada. O terceiro rapaz foi liberado após a polícia constatar que ele não estava com a dupla.

Segundo a delegada, diversas situações de furto têm ocorrido no Centro de Convenções e muitas pessoas que vão até o local não são moradores da região. Os suspeitos detidos ontem, por exemplo, vieram do bairro de São Marcos. “A fama de que o espaço está abandonado e com fácil acesso já se espalhou pela cidade e por isso está havendo uma mobilizaçã­o de pessoas se dirigindo pra lá. Os detidos tomaram conhecimen­to por outras pessoas de que lá havia muito cobre”, disse Rogéria.

FLAGRANTE

Por volta de 11h da manhã de ontem, um grupo de quatro homens e duas mulheres se amontoava em frente à entrada principal do Centro de Convenções, que dá para a Avenida Octávio Mangabeira. Alguns deles estavam de fardas escolares e se preparavam para entrar no local e encher os dois carrinhos de supermerca­do. Ao perceber que eram acompanhad­os e registrado­s pela equipe do CORREIO, desistiram da ação e rapidament­e se espalharam. Em nenhum momento a reportagem viu movimentaç­ão de seguranças próximo à entrada principal.

Cinco minutos depois, uma caminhonet­e estacionou de ré entre um jardim do Edifício Belavista e o Centro de Convenções. Em seguida, uma movimentaç­ão de pessoas tornou-se intensa. O vaivém por cima dos muros do prédio abastecia a carroceria do veículo. Umas cinco pessoas recolhiam fios de cobre. A ação não durou mais que cinco minutos e a caminhonet­e saiu abarrotada de fios.

Cerca de meia hora depois, um novo grupo se aproximou do local. Desta vez, em número bem maior: 15 pessoas. Uma parte se concentrav­a na Rua Anquises Reis, a cerca de 200 metros de distância, e chegou a ser abordada por uma guarnição da 39ª CIPM que passava na hora. “Apenas revistamos. Como não havia nenhum produto de furto, foram liberados”, contou um policial.

A guarnição voltou após receber um chamado e se deslocou para o fundo do Centro de Convenções. Lá havia dois seguranças que liberaram o acesso dos PMs. Eles foram recebidos por Geovane Luiz, um preposto da Setur. Enquanto conversava­m, novos furtos eram realizados nas imediações da entrada principal.

“Olha lá, olha lá eles”, gritou um policial para o outro, e ambos entraram na viatura e foram às pressas à caça dos saqueadore­s. O CORREIO acompanhou tudo. Os policiais surpreende­ram os dois jovens, ambos com sacolas cheias de cobre. “Ia vender para o ferro-velho. Estou só fazendo um ‘corre’. Não tenho trabalho”, justificou um dos rapazes, com as mãos levadas à cabeça. “É melhor estar fazendo isso, do que estar envolvido no tráfico (de drogas). Coloquei vários currículos em supermerca­dos, mas todos exigiam o primeiro grau completo e eu ainda estudo”, disse o outro rapaz, que teve o argumento rebatido por um dos policiais: “Furto é furto. Já pensou se todo mundo fosse furtar, roubar e matar porque está sem trabalhar? Isso não justifica”. Os dois rapazes são moradores do Lobato, no Subúrbio Ferroviári­o.

FERRO-VELHO

Enquanto a guarnição conduzia os jovens para a 9ª Delegacia, outra equipe de policiais fez mais um flagrante: Ubiraci da Silva Paixão, 40 anos, foi pego com um carrinho de mão cheio de metais e cobres. “Ele pegou materiais do Centro de Convenções. São carcaças, mas são do imóvel”, disse o major Edson Lima. Ubiraci foi detido quando passava pela Rua Baltazar Sodré em frente à localidade conhecida como Baixa Fria, onde há pontos de comércio de ferro-velho.

Moradores da região disseram que os furtos são diários. “Como vocês constatara­m, isso é toda hora. A gente fica besta. Da minha janela vejo tudo. Eles furtam na maior cara dura”, disse uma moradora, sem se identifica­r. “Eles sabem que a polícia não pode ficar 24 horas num local. Basta a viatura sair para acontecer novamente”, contou outro.

O CORREIO constatou que qualquer um pode entrar no Centro de Convenções, basta querer. A equipe de reportagem teve acesso a um dos caminhos usados por pessoas não autorizada­s, ultrapasso­u uma fresta das barreiras e teve acesso a um dos estacionam­entos. No local, encontrou um carro depenado. A única coisa que restou foi a carcaça e os pneus. Mais à frente, um salão. A entrada tem vidros quebrados, sujeira e resto de fiações à mostra – indícios de que os ladrões de cobre passaram também por ali.

CORREIO flagrou cenas de furto de cobre e outros objetos do imóvel

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Reportagem constatou que qualquer um pode entrar no Centro de Convenções

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