CARAVANAS
atrapalhado, tentando atualizar a letra e encaixar “no Google, no Face, no WhatsApp, no e-mail, no Orkut, no Telegram”.
Já o segundo neto compôs a orquestral e solar Massarandupió, uma valsa sobre a praia baiana onde passava as férias na infância. Enviada por e-mail para o avô, já que este começou a perguntar por suas criações, Massarandupió quase ficou de fora porque o neto a achava muito infantil.
“Mas foi a que ele mais gostou, ainda bem que eu mandei. Ele me mostrou no aniversário de 20 anos a letra, foi meio que um presente. Não tinha como ser melhor. Me entregou uma versão voz e violão, com a melodia que eu tinha feito e a letra que, por mais que eu nunca tivesse ouvido, parecia que eu estava ali. Falava muito da minha infância, desse subconsciente, das memórias”, disse Chico Brown em entrevista ao Estadão.
FUNK
Já em As Caravanas, que finaliza o álbum, a melodia de Chico parte de Caravan, clássico do jazz de Duke Ellington (1899-1974), para dialogar com o beatbox de Rafael Mike Dtp, músico do Dream Team do Passinho. Em arranjo de orquestra do maestro e produtor musical do disco, Luiz Claudio Ramos, a música fala sobre a chegada dos ônibus nas praias da Zona Sul do Rio, com garotos das favelas cariocas, frequentemente parados e intimidados pela polícia.
“A caravana do Irajá/O comboio da Penha/Não há barreira que retenha/esses estranhos/Suburbanos tipo mulçumanos/do Jacarezinho/A caminho do Jardim de Alá -/é o bicho, é o buchicho, é a charanga/Diz que malocam seus facões/e adagas/Em sungas estufadas e calções disformes/Diz que eles têm picas enormes/E seus sacos são granadas/Lá das quebradas da Maré”, diz um trecho da música que dá nome ao disco.
Em Blues pra Bia, por outro lado, Chico canta o amor que parece impossível para um rapaz, porque “no coração de Bia/Meninos não têm lugar”. Já em A Mulher do Sonho, Chico resgata a parceria com Edu Lobo em um arranjo simples de violão e violoncelo que costura a letra sobre um amor inalcançável que clama: “Há de haver algum lugar/Um confuso casarão/Onde os sonhos serão reais/E a vida não”.
Outra música que vale destacar é o bolero Casualmente, cantado em espanhol e feito em parceria com o baixista Jorge Helder. A música traz a citação de um verso do compositor cubano Silvio Rodriguez, que integra a canção Pequeña Serenata Diurna, gravada por Chico em 1978. A música foi a primeira da chamada Nova Trova cubana a ser gravada no Brasil, na época da ditadura militar, quando gravar músicas de Cuba era considerado uma subversão.
DIÁLOGO
Divulgado em meio à polêmica letra de Tua Cantiga, composta em parceria com o pianista e arranjador Cristóvão Bastos, Caravanas traz de volta a atmosfera clássica do medalhão da MPB, cujo fôlego continua firme aos 73 anos. Principalmente no que diz respeito à divulgação do novo trabalho, que não deixa de dialogar com seu tempo.
Para lançar Caravanas, por exemplo, Chico criou um perfil no Instagram há cerca de um mês, dando destaque para o meme com a capa do seu primeiro disco. “Não tinha Instagram oficial/Agora tenho”, diz a postagem, com as respectivas expressões faciais triste e alegre de Chico. Agora é aguardar a repercussão do novo disco que estará disponível nas lojas físicas e virtuais a partir de sexta.
Artista Chico Buarque
Gravadora Biscoito Fino
Produção musical Luiz Claudio Ramos
Preço R$ 34 (em média)