UM MAR DE SOFRIMENTO
Segunda maior baía do mundo, a Baía de Todos os Santos costuma ser um sinônimo de vida, seja de seres que a habitam ou das pessoas que dela fazem seu sustento diário. Ontem, no entanto, suas águas viraram local de uma tragédia. Uma não, a maior tragédia de sua história recente.
Até o final da noite de ontem, 18 pessoas haviam morrido após a lancha Cavalo Marinho I, que saiu do Terminal Hidroviário de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, às 6h30, com destino a Salvador, virar a cerca de 200 metros da costa de Mar Grande. Ao todo, 124 pessoas estavam na embarcação: 116 passageiros, quatro tripulantes e quatro policiais militares.
O acidente aconteceu poucos minutos depois da saída da lancha. Desespero por coletes e botes. Valia se segurar em qualquer pedaço de madeira para sobreviver. Embarcações próximas e pescadores foram os primeiros a chegar no local. Depois, o resgate contou com efetivo e veículos - por terra, céu e mar - de Marinha, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Samu, entre outros. À deriva, o que sobrou da Cavalo Marinho I acabou se chocando com os recifes.
Perto dali, alguns sobreviventes conseguiram nadar até a costa. Famílias, amigos e voluntários se desdobravam entre o sofrimento e a pressa para socorrer os feridos.
O lado da baía mudava, não o sofrimento. Em Salvador, parentes aguardavam notícias dos seus no Terminal Marítimo enquanto profissionais do Samu tentavam salvar as vidas dos resgatados.
Nem todos tiveram essa chance. Na Praia do Duro, local em que, costumeiramente, são estendidas cangas e cadeiras de praia, havia uma lona preta. Nela, corpos enfileirados cobertos por panos brancos, entre eles, o de uma criança resgatada sem vida pelo próprio pai. Que dor. De lá, nove deles seguiram para o Instituto Médico Legal (IML) de Santo Antônio de Jesus. Outros nove foram para o IML da capital.
As causas do acidente ainda serão investigadas pela Polícia Civil e pela Capitania dos Portos. Segundo sobreviventes, os ventos fortes, a chuva e o mar agitado fizeram muitas pessoas se aglomerarem - de vez - em um dos lados da Cavalo Marinho I para se proteger, desequilibrando a lancha e fazendo ela virar.
A busca por sobreviventes e por corpos foi interrompida no início da noite de ontem e será retomada hoje.