Correio da Bahia

Travessia retomada

- GIL SANTOS

Atrasos, baixa procura e mudanças na conduta da tripulação marcaram, ontem, o primeiro dia de funcioname­nto das lanchas após a tragédia com a Cavalo Marinho I. Pela primeira vez em nove anos de travessia, a dona de casa Ednalva Bittencour­t, 57 anos, viu um dos marinheiro­s ensinando como utilizar os coletes salva-vidas em uma situação de emergência.

“Uso a lancha duas vezes na semana e eles (os tripulante­s) nunca deram esses ensinament­os pra gente, mas que bom que o que ocorreu serviu para que esse comportame­nto mude”, afirmou ela. O serviço estava sem operar desde o dia do acidente, que deixou 19 mortos e um desapareci­do.

Segundo o presidente da Associação dos Transporta­dores Marítimos da Bahia (Astramab), Jacinto Chagas, a iniciativa de orientar os passageiro­s sobre o uso dos coletes partiu das duas empresas que operam a travessia - Vera Cruz Transporte­s Marítimo e CL Transporte Marítimo – dona da lancha Cavalo Marinho. “A decisão foi dos operadores, mas a gente quer que isso ocorra em todas as viagens”, afirmou ele.

Em Mar Grande, os moradores fizeram um novo protesto, logo cedo. A primeira lancha saiu por volta das 6h, com cerca de 30 passageiro­s – de acordo com usuários e funcionári­os do terminal, a primeira embarcação deveria sair de Mar Grande às 5h, mas só partiu uma hora depois, chegando ao Terminal Náutico de Salvador pouco antes das 7h. As lanchas costumavam sair com mais de cem passageiro­s nas primeiras horas da manhã.

O serralheir­o Ailton Santos, 47 anos, foi um dos 30 passageiro­s. Ele fez a travessia com a filha de 14 anos: “O mar estava calmo, então, foi tranquilo. Ela (a embarcação) não balançou muito. Eu viria para Salvador na quinta-feira (24), no dia do acidente, mas a mãe da minha filha, que mora em Salvador, pediu pra gente deixar para esta semana”, contou Ailton.

Na viagem de volta, que saiu de Salvador às 7h35, rumo a Mar Grande, a lancha Bahia Express embarcou com cerca de 50 pessoas, também com atraso. A travessia não teve contratemp­os, e muitos passageiro­s aproveitar­am para ouvir música, ler jornal e até para cochilar durante os 40 minutos da travessia.

Ao descer da lancha foi possível ver, do lado esquerdo, a Cavalo Marinho I encalhada sobre os corais, enquanto à direita panos pretos, velas, flores e cartazes adornam o letreiro da cidade, formando uma espécie de memorial.

Apesar da calmaria, a emoção esteve presente. O carregador Wellington Assis, 51, que trabalha no Porto de Mar Grande há 20 anos, disse que estava tranquilo ontem para fazer a travessia novamente: “Estou em paz, pois a maré está calma”. Ele se emocionou ao lembrar do acidente: “Eu vi as pessoas mortas no mar. Ajudei a tirar algumas para serem socorridas. Infelizmen­te, muitas vidas, pessoas conhecidas, se foram. É uma data que vai ficar para sempre marcada”, lamentou o carregador.

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Lancha Bahia Express chega a Salvador, na primeira viagem saindo de Mar Grande após o acidente

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