Olhar estrangeiro
É praxe os forasteiros se impressionarem com as particularidades — excentricidades, talvez — de Salvador. Elas costumam impactar e, também, gerar reflexão.
Foi precisamente o que aconteceu com o urbanista colombiano Carlos Cadena Gaitán Ele passeou ontem pela cidade, a convite do CORREIO, e não ficou imune à mistura de encantamento e curiosidade pelos contrastes da capital. De celular em punho, registrou cada detalhe do passeio entre exclamações de “muy lindo!” (muito bonito) e perguntas sobre a história e cultura. Era o impacto.
Hoje, será a reflexão. Carlos Cadena Gaitán está em Salvador como conferencista máster do seminário Cidades, no Fórum Agenda Bahia 2017, que acontece, a partir das 8h, na sede da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb).
Depois de enfrentar um voo de 18 horas, de Bogotá, na Colômbia, até Salvador, com escala no Rio de Janeiro; ele recebeu a reportagem no hotel e, de lá, embarcou em um tour pela nova e a antiga Salvador.
A visita começou pela Avenida Luís Viana Filho (Paralela) onde ele fotografou desde os ambulantes nos pontos de ônibus até o trânsito intenso do final de tarde. Ficou interessado na estrutura das passarelas que interligam os dois lados da avenida e decepcionado com a falta de conexão entre as ciclovias da região, que cobrem apenas um pequeno trecho da avenida.
Também ficou surpreso com o fato das estações de metrô no local não possuírem um terminal de transbordo intermodal, que facilite a microacessibilidade dos usuários do sistema.
ENCONTRO COM O MAR
Carlos Cadena Gaitán é cicloativista e defensor de meios de transporte mais sustentáveis. Ele foi eleito Líder de Sustentabilidade do Futu ro, em 2015, por ações desenvolvidas no coletivo La Ciudad Verde e no Fórum Mundial da Bicicleta.
Por isso, ao se deparar com as antigas ciclofaixas da Avenida Dorival Caymmi que se converteram em estacionamento ao longo do meio-fio, não escondeu o desapontamento: “As pessoas aqui devem achar mais fácil sair de carro próprio do que usar outros meios. A estrutura viária da cidade contrasta com a atmosfera acolhedora”, opinou.
Na saída da Dorival Caymmi para a Sereia de Itapuã, uma onomatopeia serviu de tradução pelo encantamento diante do encontro com o mar. O tour seguiu pela orla marítima, com uma parada em Piatã, onde além de arriscar a pronúncia do nome da praia, também fotografou a interação entre ciclistas, aspirantes a maratonistas e patinadores.
“É admirável haver um espaço para crianças aprenderem a andar de bicicleta. Aqui, além de muito bonito, é um lugar onde as pessoas convivem. As cidades devem ter mais locais assim, que valorizem o verde e o azul (mar, rios, lagoas)”, acrescentou.
Seguindo pela orla, Cadena ficou curioso com os remanescentes dos antigos rios e lagoas da cidade. Na altura do canal do Rio Jaguaribe, ao se deparar com as pixações de ativistas ambientais contra o projeto de cobrir o canal, ele concordou que o ideal seria re-
Urbanista destaca o potencial da cidade para acolher pessoas