Correio da Bahia

Enterrado eletricist­a que morreu salvando vítimas

- Tailane Muniz tailane.muniz@redebahia.com.br

O nome não poderia ser mais apropriado para alguém que, segundo familiares, se atirou no mar para salvar duas mulheres da morte. O eletricist­a Salvador Souza Santos, 68 anos, conhecido como Guerreiro da Ilha, livrou duas famílias de sentirem a dor da perda. Seus quatro filhos, porém, não tiveram a mesma sorte.

Salvador é a 19ª vítima do acidente com a lancha Cavalo Marinho I, ocorrido na manhã de quinta-feira (24), na Baía de Todos os Santos. Sob aplausos, o corpo de Salvador foi enterrado, na manhã de ontem, no Cemitério Quinta dos Lázaros, na capital baiana. Cerca de 250 pessoas, entre familiares e amigos, prestaram as últimas homenagens ao Guerreiro da Ilha.

Após três dias desapareci­do, o corpo do eletricist­a foi encontrado boiando na praia de Barra do Pote, em Vera Cruz, na noite de domingo (27). Um dia depois, os filhos receberam a confirmaçã­o da notícia que mais temiam.

“Eu tive esperança o tempo inteiro. Apesar da idade, meu pai era um homem forte e sabia nadar. Acreditei que ele não tivesse morto”, disse um dos filhos da vítima, o soldador Marcelo Coelho, 37, após enterrar o corpo do pai.

O momento de dor, porém, foi também de alívio para Marcelo e os três irmãos, todos filhos do único casamento do eletricist­a, viúvo há um ano. “Não tem nada mais angustiant­e do que ter o corpo de um pai perdido no mar. Ao menos, pudemos dar o sepultamen­to digno que ele merecia”, completou o soldador.

“Ele morreu para salvar duas mulheres, que, naquele momento, precisavam de ajuda. Uma testemunha me contou que ele estava bem e disse que ia descansar para salvar mais gente, até que sumiu no mar”, relatou ele ao CORREIO.

Embora não tenha tido contato com as pessoas que podem ter sido salvas por seu pai, Marcelo diz que acredita na versão. “Não duvido nem um pouco, ele era muito agoniado para resolver tudo e ajudar todo mundo”, relembra.

Testemunha conta que ‘Guerreiro da Ilha’ foi herói antes de sumir no mar

HÁBITO

Viúvo há cerca de um ano, Salvador morava sozinho em Mar Grande há dez anos e, diariament­e, fazia a travessia para a capital baiana. O habitual era pegar a primeira lancha, que sai às 5h. No dia do acidente, um atraso fez com que o idoso embarcasse na Cavalo Marinho I, que saiu às 6h30, e adernou cerca de dez minutos após deixar o terminal da ilha.

Descrito por familiares como uma pessoa alegre, o aposentado gostava de reunir familiares e amigos para fazer churrasco nos finais de semana.

Cunhado do eletricist­a, o aposentado Francisco de Souza, 70, recordou os dias de desespero que a família viveu até ter a confirmaçã­o da morte do idoso.

“Foram dias terríveis. Logo que soubemos do acidente, sabíamos que ele estava na lancha. Quando começamos a ligar para o celular dele, sem

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Cerca de 250 pessoas, entre parentes e amigos, foram ao enterro do eletricist­a conhecido como Guerreiro da Ilha

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