Correio da Bahia

Adolescent­e continua desapareci­da

- GIL SANTOS

LEMBRANÇAS

Amigo de infância do eletricist­a, o aposentado Raimundo Santana, 69, contou ao CORREIO que só guarda boas lembranças da amizade que nasceu no bairro de São Gonçalo do Retiro, onde o aposentado foi criado e passou a maior parte da vida.

Raimundo contou que o eletricist­a tinha cinco filhos - três mulheres e dois homens, mas uma das filhas morreu após sofrer um AVC, em 2016. Dois meses depois, Salvador perdeu a esposa.

“É um homem que marcou a minha história. E eu não quero falar de tristeza, mas lembrar de como ele era bom em vida. Um homem que fazia tudo pelas pessoas, só fazia o bem”, disse ele, que esteve com Salvador pela última vez há seis meses.

Também de São Gonçalo, a dona de casa Raimunda Leto, 71, lamentou a partida inesperada do amigo. “É muito triste. Que os filhos dele tenham força para superar essa tragédia que destruiu nossos corações”, falou Raimunda.

Ela destacou ainda o espírito bondoso do amigo. “Morreu pelo próximo. A vida é isso, amar aos outros como a nós mesmos, e foi o que ele fez.” O aposentado completari­a 69 anos em novembro. A família de uma adolescent­e de 12 anos que estava na embarcação Cavalo Marinho I procurou a polícia e a Defensoria Pública ontem e registrou o desapareci­mento da jovem.

Aos defensores que estão realizando o atendiment­o de sobreviven­tes e familiares em Vera Cruz, a estudante Adriana Souza contou que levou a sobrinha ao Terminal Marítimo de Mar Grande e que ela embarcou na lancha das 6h30 daquela quinta-feira, 24. A mãe da menina a esperava no Terminal de Salvador, mas a filha não chegou. “Ela passava o final de semana comigo aqui na Ilha. Veio sábado e era para voltar na segunda, mas a volta foi na quinta, justamente nessa lancha da tragédia. Até agora, ela não apareceu”, disse a tia.

O defensor público Armando Fauaze entrou em contato com o subcomanda­nte do Grupamento Marítimo do Corpo de Bombeiros, capitão Luciano Alves, que compareceu à unidade da Defensoria, para também ouvir o relato. “Este encontro ajudou a saber mais detalhes, por exemplo, sobre as caracterís­ticas físicas da menina. Agora, as buscas poderão ser intensific­adas”, explicou Armando.

Ontem, também em Vera Cruz, o CORREIO conversou com um dos sobreviven­tes da tragédia. O aposentado Justino de Jesus, 65 anos, perdeu a esposa, que também estava na Cavalo Marinho I. Alessandra Bonfim dos Santos,

35, estava ao lado dele quando a embarcação tombou.

“Quando ela (a embarcação) desce muito, a gente já prevê que vem uma onda forte na parte oposta. Quando olhei pro lado direito, só vi aquela cortina de água”, relembrou o aposentado. “Minha esposa estava do meu lado, só vi ela pedir socorro e desceu direto pras águas.”

Sem saber nadar, Justino contou que se agarrou a um pedaço do teto da lancha que se soltou. “Eu vi ele (o tampão) e nadei ao encontro dele para poder me segurar. Consegui, passei para cima do teto da lancha. E ali permaneci por duas horas.”

Esse foi o tempo que a vítima calculou ter esperado pelo resgate. “Nós pedimos socorro, ficaram em pé, sacudindo os coletes, e tinha dois policiais, ou três, nos botes, ainda perto da gente, atirando para cima. Tinha um na lancha e outro nos botes, atirando para cima. Não é possível que o pessoal não tenha visto”, afirmou Justino. A Marinha disse que só foi informada do acidente às 7h45 via rádio - uma hora depois que a lancha adernou.

Hoje, a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) e a Associação Psiquiátri­ca da Bahia irão à ilha, para garantir o suporte psicológic­o aos sobreviven­tes e pessoas que perderam familiares no naufrágio.

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A autônoma Simara Queiroz, 24, observa o memorial em Vera Cruz e lembra da amiga que perdeu no acidente

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