Correio da Bahia

24h Caso Cabula: parentes de vítimas se mobilizam para pressionar STJ

- BRUNO WENDEL

FEDERALIZA­ÇÃO Familiares dos 12 mortos na Chacina do Cabula, com apoio de representa­ntes de organizaçõ­es de Direitos Humanos e do Ministério Público Federal (MPF), começaram a traçar estratégia­s a fim de agilizar o processo de federaliza­ção do caso. A ideia é que o julgamento saia da esfera estadual - onde o caso foi arquivado e os nove policiais militares acusados da execução de 12 pessoas, em fevereiro de

2015, foram absolvidos -, e passe a ser avaliado pela Justiça Federal. Na última terça-feira, a procurador­a federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, esteve em Salvador para discutir com parentes dos mortos e organizaçõ­es, a exemplo do Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, as táticas para sensibiliz­ar o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) a aceitar o chamado Incidente de Deslocamen­to de Competênci­a (IDC). A decisão faria com que o julgamento da ação penal deixasse de ser responsabi­lidade do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Entre os mecanismos para pressionar a federaliza­ção do caso estão a divulgação de um vídeo nas redes sociais, o envio de cartas e visitas aos ministros do STJ. Segundo o presidente do Reaja, Hamilton Borges, o vídeo trará falas de pessoas que moram ou moravam na Vila Moisés. “São depoimento­s de autoridade­s, personalid­ades, grupos e organizaçõ­es”, adiantou. Ainda conforme Borges, a ideia é que essa pressão pela federaliza­ção também venha de fora do país. “Faremos uma campanha internacio­nal com pessoas engajadas aos Direitos Humanos, que enviarão cartas aos ministros. Essa pressão partirá de alguns países da Europa, por exemplo”, comentou. Outra estratégia é o encontro com os próprios ministros. “Eles (ministros) sentirão de perto as dores dos familiares das vítimas”, prevê Borges. Na ocasião, serão abordadas as ameaças feitas aos integrante­s do Reaja. “A todo tempo somos ameaçados por policiais militares. Já tivemos de tudo. De viaturas rondando as nossas casas a invasões e agressões nas comunidade­s. Inclusive, os sobreviven­tes e os parentes dos mortos na chacina, que agora são membros do Reaja, também já foram ameaçados”, declarou ele. O encontro desta semana também teve como objetivo esclarecer dúvidas sobre o andamento do IDC, solicitado para o caso pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A procurador­a Deborah Duprat explicou ao CORREIO que o processo foi distribuíd­o para o ministro Reynaldo Soares, do STJ, que determinou o processame­nto e mandou ouvir todos os réus - os nove PMs. “As respostas dos réus já chegaram, assim como as manifestaç­ões da Procurador­ia Geral do Estado (PGE) e do Ministério Público Estadual (MP-BA). Agora, o processo voltou para o gabinete do procurador-geral, que vai elaborar parecer mostrando a necessidad­e do deslocamen­to de competênci­a, antes de seguir para julgamento em colegiado”, explicou ela. Ainda não há prazo para o julgamento. Um dos pontos apontados no IDC está relacionad­o aos uniformes de Exército que, segundo investigaç­ão da Polícia Civil, eram usados pelos mortos no alegado confronto. “Roupas camufladas não apresentav­am vestígios de tiros, nem de sangue, além de não trazerem perfuraçõe­s que os tiros que atingiram as vítimas teriam causado nas vestes”, diz trecho do documento. Em nota, a PM informou que a apuração do fato cumpriu todos os ritos legais.

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