Correio da Bahia

Indústria de alimentos em alta com safra de soja

- Mário Bittencour­t mais@correio24h­oras.com.br

A soja plantada em mais de 1,5 milhão de hectares no Oeste da Bahia volta a se destacar, após cinco anos com desempenho errático por conta da seca. E o impacto das boas notícias no campo não se restringiu ao mercado agrícola. Como aproximada­mente 40% da produção é para o esmagament­o e fabricação de óleo de soja por multinacio­nais que atuam na região, o impacto na área industrial de produção de alimentos já foi sentido, com aumento de 5,7% nesse segmento.

A alta na safra de 2017 em relação a 2016 foi de 62,8%, com produção de 5,2 milhões de toneladas de grãos – a melhor desde os anos 90, início do plantio da cultura na região, onde a saca de 60 quilos custa, em média, R$ 56,60.

O setor de produção de alimentos teve o melhor desempenho industrial do mês de junho na Bahia, o que foi divulgado mais recentemen­te. No geral, contudo, a produção baiana caiu 10% no mesmo mês, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Regional, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) e analisados pela Superinten­dência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI).

No Oeste, onde a cadeia da soja gera mais de 117 mil empregos diretos e indiretos, as principais empresas que fazem o processame­nto do óleo da leguminosa são a Bünge e a Cargill. As empresas mantêm segredo sobre a quantidade produzida. Mas a última atualizaçã­o disponível sobre o assunto, de 2011, apontava uma produção de 653 mil toneladas de óleo de soja, de acordo com dados da Associação de Agricultor­es e Irrigantes da Bahia (Aiba). Naquela safra foram colhidas 3,6 milhões de toneladas da leguminosa.

Cresciment­o de 62,8% no campo tem reflexo em indústria no Oeste

BALANÇA COMERCIAL

A soja baiana correspond­e a 4,8% da produção nacional e a 58% da produção do Nordeste. O maior comprador é a China, responsáve­l por adquirir 60% do produto. No mês de julho, segundo levantamen­to da SEI, impulsiona­das pelo volume embarcado de soja e derivados (439,8 mil toneladas, o maior desde 2015), as exportaçõe­s baianas fecharam em US$ 684,7 milhões, com incremento de 26% em relação a julho de 2016 e de 8,7% em relação a junho último.

Até julho, as vendas externas do complexo soja (grão + farelo + óleo) somaram 2,18 milhões de toneladas, o que já se configura volume recorde para o período. “O setor da soja está se recuperand­o agora, depois de cinco anos de produção abaixo do esperado, devido à seca. É um momento para se comemorar e fazer investimen­tos”, disse o coordenado­r de Comércio Exterior da SEI, Artur Souza Cruz.

OUTROS PRODUTOS

Outros setores que influencia­ram ainda o bom desempenho industrial da produção de alimentos da Bahia foram a farinha de trigo, manteiga de cacau e chocolate em pó.

O mercado de cacau na Bahia, no entanto, passa por problemas. A safra 2016/2017 deve ficar em 104.820 toneladas de cacau, ante as 145.630 toneladas da safra de 2015/2016, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

Já o setor de produção de farinha de trigo tem apresentad­o melhoras, mesmo que a Bahia ainda tenha poucas áreas plantadas com a cultura: está com apenas cerca de 5 mil hectares plantados no Oeste, com produção de 4 a 6 toneladas por hectare. Com unidade fabril no estado, a empresa J.Macêdo lidera o setor de produção de farinha de trigo no Nordeste, com a marca Dona Benta, que detém 22,7% de participaç­ão do mercado

Todo o trigo para as operações da empresa chegam pelo terminal de grãos operado pela empresa no Porto de Salvador, que está, inclusive, sendo modernizad­o com investimen­tos de R$ 27,5 milhões.

As novas instalaçõe­s vão dobrar a capacidade atual de retirada de grãos dos navios, passando de 150 toneladas/hora para 300 toneladas/hora. As obras começaram em março e ficam prontas em outubro.

O volume de trigo recebido no terminal de Salvador em 2016 foi de 228 mil toneladas; em 2017, já são 160 mil toneladas até julho. O trigo, depois de processado, abastece o complexo fabril em Simões Filho e Salvador (massas).

A Bahia é o segundo mercado da J.Macêdo, depois de São Paulo, e 85% de tudo que as unidades locais produzem são para o próprio estado, principal foco do atual ciclo de investimen­to da empresa, recebendo cerca de R$ 350 milhões. “Eles [os investimen­tos] estão acontecend­o, apesar da crise recente vivida pelo país, e isso é importante para sinalizar a disposição do poder público de criar um ambiente de negócio melhor”, declarou a empresa, em nota.

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