O avanço do otimismo
Após quase três anos em gradual declínio, os novos números sobre a economia brasileira reacenderam de maneira mais firme o otimismo do mercado e obrigaram analistas financeiros a revisar para cima suas projeções sobre o futuro do país. Em um cenário dominado por estimativas e resultados negativos, a alta de 0,2% do PIB no segundo trimestre do ano, comparado ao período imediatamente anterior, indica o fim do ciclo de recessão que consumiu empregos e paralisou grandes projetos de investimentos. Ao mesmo tempo, reforça a necessidade de avançar nas reformas estruturantes para sustentar a ascensão da curva.
O crescimento na soma de bens e serviços produzidos no Brasil de abril a junho de 2017 permite avaliar positivamente o horizonte a curto e médio prazos por dois motivos. Primeiro, ocorre no rastro da alta de 1% do PIB já registrada no primeiro trimestre. Segundo, foi puxado pelo aumento no consumo das famílias e no setor de serviços, cujos índices apresentavam seguidas quedas desde o início de 2015. Tais resultados, de acordo com avaliações de economistas do IBGE e de instituições financeiras privadas, é reflexo direto da redução de juros, inflação em baixa, oferta de crédito e liberação do FGTS das contas inativas.
De pronto, tanto a equipe econômica do governo Michel Temer quanto a dos maiores bancos e agências de risco deixaram de lado as dúvidas sobre a capacidade de recuperação do país nos próximos dois anos. Agora, apostam alto na retomada da expansão para 2018 e 2019, em um grau de certeza que estava fora das previsões iniciais. A performance da bolsa de valores, que atingiu na sexta-feira seu maior patamar desde 2010, o dólar sobre controle e a redução do risco-país servem como itens adicionais no recente pacote de boas notícias em meio à crise.
Apesar da comemoração do governo Temer, a situação ainda inspira cuidado e cautela. A indústria, com redução de 0,5% no último trimestre, ainda respira com dificuldades e depende de medidas capazes de reativar a roda da pujança. Há que se considerar ainda a posição do Brasil no ranking mudial do PIB para o período, onde ocupa o 41º e penúltimo lugar na lista das economias que já divulgaram os resultados de abril a junho, com percentual bem abaixo do registrado, por exemplo, pela China (6,9%), Filipinas (6,5%), Malásia (5,8%) e México (1,8%).
O que mostra o distanciamento do país em relação ao movimento internacional de nações com características parecidas com a do Brasil, sobretudo no grupo das emergentes. Sem medidas sérias de ajuste fiscal e de estímulo ao setor produtivo, pode até se pensar em taxas tímidas de crescimento real, mas será impossível saltar mais longe a ponto de ver a crise pelo retrovisor. Daí a urgência em modernizar as regras previdenciárias e tributárias, as duas maiores travas à recuperação econômica.
A reação do PIB mostra também que o empresariado decidiu se mover para além do turbilhão político, onde a instabilidade não dá sinais de trégua. Em vez de esperar que os líderes do Congresso e do Planalto se entendam para aprovar as reformas, os setores responsáveis pela geração de emprego, renda e riqueza no país parecem resolvidos a tomar o protagonismo que lhes cabe nos destinos nacionais.