‘Mulher prefere caipiroska, que é barato’
Eu nunca tinha ido a uma balada open bar quando topei o convite de Aníbal Bittencourt para conhecer a 30 Segundos, no Rio Vermelho. “Sete anos tocando Beatles, em Salvador, numa quinta-feira, e sem prejuízo”, diz ele, o gerente orgulhoso. Tantos predicados acabaram por me convencer.
Fui linda: aposentei meus apetrechos de miçangueira hippie, botei um saltão, bebi horrores e me acabei de dançar. Não senti clima de carnaval, com gente puxando gente para beijar, e não achei a paquera agressiva - isso é o que eu deveria esperar, de acordo com amigos. Não me senti uma consumidora de segunda categoria e nem um produto.
No dia seguinte, Aníbal contou que estudou muitos números para manter a festa no superávit. Um deles foi o comportamento de consumo de cada gênero.
“Homem bebe mais a bebida mais cara, que é o uísque. Quando não bebe uísque, bebe muita cerveja. Já mulher prefere caipiroska, que é extremamente barato pra mim”, diz ele. Formado em Economia, Aníbal me deu um bom dado: macho custa até 120% mais.
Essa é a razão dos preços diferentes, e não o desejo de transformar a festa em um harém. “Usando a estatística, como fazem as seguradoras de veículos na hora de oferecer apólices mais baratas para mulheres, que estragam menos os carros, é possível provar que o consumo mais baixo da mulher justifica sua entrada mais barata”, golpeia Aníbal. E a gente finge que acredita, pois todos sabemos que festa com muita mulher é o que todo mundo quer.
Quantas mulheres você conhece que teriam R$ 100 pra entrar numa festa? Quantas teriam R$ 500?
“Quero ver o que esse estudante de Brasília faria se fosse a festas de swing (troca de casais) em São Paulo, onde chegam a cobrar R$ 500 para a entrada masculina e R$ 20 no ingresso de mulher”, diz o jornalista alemão Oliver Döhne.
Cuidado, rapazes: se investigarmos tudo, é capaz de vocês terem, por lei, é que pagar para a gente se divertir. Primeiro tiramos a cobrança na balada, depois tiramos absorventes e tampões das farmácias, e os distribuiremos de graça pelo SUS.
Na minha opinião – agora nada humilde –, o Ministério da Justiça errou feio. Fazendo uma estatística de cabeça e à minuta, especialidade do anjo cronista Millôr, quase 100% das baladas que cobram ingresso diferenciado são open bar. E, ora, não vemos ingressos de Gal na Concha por R$ 50 a mulher e R$ 100 o homem. Ou vemos?
Vamos pagar igual na festa ou não vamos? Pouco importa: o condão dessa mixaria não vai impedir que mulheres sejam objetificadas, nem muito menos vai trazer a tão sonhada e tardia igualdade de direitos e oportunidades entre os gêneros. Viva as festas que não ofendem ninguém e “dai-me mais vinho que a vida é nada”, como escreveu Fernando Pessoa.