Correio da Bahia

Delator deixou de informar conta no Paraguai

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Ao pedir instauraçã­o de inquérito sobre gravação entre delatores da JBS, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou outra informação que havia sido deixada de fora pelos delatores da empresa. Janot afirmou que Ricardo Saud ainda anexou um anexo complement­ar no qual declara ter uma conta no Paraguai não declarada às autoridade­s quando o grupo assinou o termo de colaboraçã­o com o Ministério Público Federal.

“O colaborado­r Ricardo Saud, também em 31/8/2017, apresentou anexo declarando possuir conta no exterior, mais especifica­mente no Paraguai, a qual não havia sido informada quando da assinatura do acordo em 3/5/2017”, disse. Segundo Janot, essa informação precisa ser aprofundad­a. “O momento da declaração patrimonia­l, que leva em consideraç­ão, inclusive, a estipulaçã­o do valor da multa e da eventual perda de valores ilícitos, dá-se com a apresentaç­ão de anexo patrimonia­l, antes do oferecimen­to da premiação”, afirmou.

A assessoria de imprensa do grupo J&F, controlado­r do frigorífic­o JBS, divulgou nota em que diz que sua defesa considera precipitad­a a interpreta­ção da Procurador­ia-Geral da República sobre os novos áudios de conversas dos delatores do grupo empresaria­l.

A defesa dos executivos da J&F junto ao Ministério Público Federal informou que a interpreta­ção do material foi “precipitad­a” e será “rapidament­e esclarecid­a, assim que a gravação for melhor examinada”. A JBS cita uma nota da PGR que trata o diálogo entre os delatores da JBS como “meras elucubraçõ­es, sem qualquer respaldo fático”.

“Ou seja, apenas cogitações de hipóteses ‘não houve uma palavra sequer a compromete­r autoridade­s’”, diz a nota. “Diversos profission­ais foram ouvidos, mas em momento algum houve qualquer tipo de contaminaç­ão que possa compromete­r o ato de boa fé dos colaborado­res”. O presidente Michel Temer viu enfraqueci­mento político do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ameaçar o cancelamen­to da delação premiada da JBS, mas avalia que as investidas contra ele seguem e que a segunda denúncia deve ser apresentad­a em breve.

O presidente soube da decisão de Janot de investigar indícios de omissão de informaçõe­s sobre práticas de crimes no acordo da JBS por telefone, quando um de seus assessores o acionou na China, onde o peemedebis­ta está em viagem para participar da cúpula dos Brics.

Segundo auxiliares, Temer reforçou a tese de que a delação dos executivos da JBS é “mentirosa” e de que havia “omissão” de informaçõe­s nos depoimento­s prestados pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.

A assessores, o presidente disse que “a verdade vai prevalecer”, mas avaliou que é inevitável que Janot apresente a segunda denúncia contra ele, desta vez por obstrução de Justiça e formação de quadrilha, antes que o procurador-geral deixe o cargo, em 17 de setembro.

O Palácio do Planalto avalia que a repercussã­o da decisão de Janot será “ótima” para o governo e terá reflexo político entre os parlamenta­res que precisarão votar o prosseguim­ento da segunda denúncia contra o presidente.

Na opinião de ministros e assessores de Temer, Janot perdeu força e mostrou que a delação da JBS é frágil. Nesse sentido, a apresentaç­ão da segunda denúncia seria “incoerente” e “açodada”, visto que estaria baseada em um acordo questionáv­el.

Temer afirmou a assessores que ainda falaria com o seu advogado, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, para discutir a estratégia jurídica a partir de agora. O presidente disse que é preciso saber mais sobre os fatos que estão nos áudios, classifica­dos como “gravíssimo­s” por Janot, para que se tenha um diagnóstic­o mais preciso.

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