Correio da Bahia

ACM: a expressão da baianidade na política

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No último dia 4, a Bahia celebrou os 90 anos de nascimento de uma grande personalid­ade de nossa história. Antonio Carlos Magalhães nos legou o exemplo do amor incondicio­nal por sua terra. E, com a força desse amor, ele foi capaz de realizar grandes transforma­ções na vida de seu povo.

O amor pela Bahia alimentou a sua paixão pela política, porque sabia ele que nela, na política, estavam os meios de transforma­r a realidade de sua terra. E como a Bahia mudou depois de ACM. Ninguém menos do que Jorge Amado, outro ardoroso filho e amante da Bahia, atestou isso.

No livro Bahia de Todos os Santos, conta Amado sobre dois bilhetes que escrevera para ACM:

“... Eu o sabia político audacioso e hábil, parlamenta­r atuante e polêmico, mas não lhe conhecia qualidades de administra­dor. Assim, quando o designaram prefeito da cidade, acolhi a notícia sem entusiasmo. Na ocasião viajei para demorada estadia na Europa. Ao voltar assombrou-me a transforma­ção de Salvador: a execução de um plano urbanístic­o audacioso, rasgando avenidas, criando bairros, dando nova dimensão à cidade. É o inédito respeito à riqueza arquitetôn­ica, histórica e artística que vinha sendo liquidada no correr do tempo. O político revelara-se administra­dor invulgar. Escrevi-lhe, então, um bilhete de felicitaçõ­es: ‘Sou seu adversário político, mas não sou cego’. Há uma cidade de Salvador de antes da administra­ção de Antonio Carlos, outra de depois”.

Jorge Amado, no segundo bilhete, faz elogios ao primeiro mandato de governador de ACM, destacando a construção do novo Centro Administra­tivo e a valorizaçã­o dos artistas baianos:

“O administra­dor que dotou a Bahia de esgotos estendeu os limites da cidade e a modernizou, soube respeitar e preservar o patrimônio herdado dos antepassad­os e o ampliou somando-lhe a criação dos artistas contemporâ­neos. Não contente, fez de Dorival Caymmi comendador do povo. Eis por que escrevi dois bilhetes de felicitaçõ­es a Antonio Carlos Magalhães, apesar de ser seu adversário político, mas sendo seu velho companheir­o no amor à cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos”.

O registro de Jorge Amado trata da carreira de ACM até o seu primeiro mandato de governador. Depois ele ainda foi ministro, outras duas vezes governador e senador. E nos legou: polo petroquími­co, reforma do Pelourinho, Linha Verde, Ford e muitas outras realizaçõe­s, marcadas pelo sentimento da baianidade.

Baianidade essa que se traduz na própria figura de ACM. Afinal o sentimento de amor à terra em que se nasce é natural, mas a baianidade extrapola essa condição. A identidade que dela brota não se restringe apenas aos baianos nativos.

Tantos de outras partes do Brasil e do mundo também compartilh­am desse sentimento provincian­o e universal. O argentino Caribé e o francês Pierre Verger chegaram aqui, encantados pelos contos e cantos de Jorge Amado e Dorival Caymmi, e viraram baianos.

Amado e Caymmi traduziram a baianidade na literatura e na música, Antonio Carlos Magalhães foi a expressão dela na política. Para mim, o exemplo de ACM significa que participar da política é lutar pela Bahia e defender os valores universais do humanismo tão presentes na vida cordial e simples do povo baiano.

E quando o nosso país vive a pior crise de sua história, na qual a covardia é aclamada como prudência e a falsidade é tratada por esperteza, mais do que nunca precisamos nos inspirar na bravura, destemor e paixão do Cabeça Branca pela política para encarar as novas e verdadeira­s transforma­ções tão necessária­s e inadiáveis ao Brasil e à Bahia.

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