Suicídio na adolescência
No Brasil, temos uma taxa de 12 mil suicídios anuais, sendo cerca de 3 mil praticados por jovens entre 15 e 29 anos. Nesses, a taxa de suicídio aumentou 10% nos últimos 12 anos. Nos países em que houve campanhas relevantes de prevenção e conscientização a respeito do suicídio, como uma causa de morte prevalente nesse público, observou-se uma tendência a diminuição nas taxas de suicídio.
Ele é a terceira causa de morte nessa faixa etária e as tentativas suicidas são a sexta causa de incapacitação. Suspeita-se que para cada suicídio existem cerca de 15 pessoas que tentaram sem sucesso, e essas tentativas podem causar lesões corporais graves e incapacitantes.
O jovem com depressão, bipolaridade, drogadição ou transtornos ansiosos permanece num solitário labirinto de dor. De início, ninguém o compreende e ele tende a esconder esse sofrimento. Reações familiares de negação do problema, por acreditar ser algo natural da adolescência, são comuns. Isso gera o atraso no diagnóstico e início do tratamento, o que pode configurar uma situação de “sofredor crônico”, caracterizada por índices altos de falta de esperança.
Estudos que comparam os resultados da aplicação da Escala de Desesperança de Beck (perguntas e respostas que buscam medir o nível de desesperança do indivíduo) e o risco de suicídio mostram uma relação relevante entre eles. Isso é importante para demonstrar que a maior parte dos suicidas não quer realmente se matar, mas encontra-se em uma fase de aflição insuportável. Ao se deparar com uma situação gatilho: mortes de familiares, mudança de cidade, bullying escolar ou abusos familiares, em instantes o adolescente pode passar ao ato da tentativa de suicídio, devido a sua impulsividade.
O sofredor crônico, com baixo índice de esperança, tende a aumentar o grau de letalidade do ato suicida, pois racionalmente ficou “confirmado”, para ele, que esse sofrimento não é passageiro. Identificar os sinais de adoecimento mental, ainda na juventude, é fundamental para evitar que diagnósticos mais simples, perfeitamente tratáveis por um profissional especializado, se transformem em quadros crônicos, de sofrimento intenso e maior risco para o paciente.
Sensibilizar a sociedade para identificar jovens com distúrbios psíquicos ajudará a reduzir essas estatísticas. Muitas vezes há sinais fáceis de identificar, os quais ficam mais aparentes meses ou semanas antes do ato: perda do interesse pelas coisas que davam prazer, isolamento inesperado, mudança de humor com os diálogos sempre tendendo a uma postura pessimista ou muito crítica dos acontecimentos (a lente escura da perspectiva depressiva) e queda da produção escolar. Os pais podem conversar sobre esse tema com seus filhos; devem melhorar a qualidade do contato com eles e a sintonia afetiva, principalmente se o tempo for escasso. A pessoa com fragilidade psíquica precisa de motivação para buscar ajuda e relembrar que não há tormento que dure para sempre.