Correio da Bahia

DA RUA PARA A GALERIA

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la o baiano de 31 anos, que se chama Fábio Silva.

As telas - todas em tinta acrílico - na exposição chamam logo a atenção pelo uso praticamen­te exclusivo da cor azul. Fábio diz que optou por aquela tonalidade por dois motivos: primeiro, porque muita gente diz ‘fulano é tão preto que chega a ser azul’ e SuperAfro queria ressaltar a força dos negros que vivem no Bairro da Paz; o segundo motivo é que os egípcios associavam o azul à realeza e assim a cor novamente reforça a potência da comunidade onde SuperAfro foi criado.

O COMEÇO

O interesse dele por arte começou durante uma oficina que teve em 2001, quando ainda era estudante da Escola Estadual de Aplicação Anísio Teixeira, onde foi aluno do grafiteiro Denissena. Dali em diante, começou a se arriscar como artista, desenhando em papel e fazendo grafites, sem muita pretensão, ali mesmo pela vizinhança.

Só encarou as ruas em 2006, quando se dirigia ao centro da cidade para grafitar em bairros como Lapa, Campo Grande e Garcia. Foi naquele mesmo ano, mas do outro lado da cidade, perto de sua casa, nas proximidad­es do Costa Verde Tênis Clube, que passou por um susto inesquecív­el.

Ele e o amigo Core estavam grafitando um muro quando foram surpreendi­dos por um policial. “Ele foi logo xingando a gente, chamando de vagabundo. Depois, fez a revista, machucando a genitália. Depois, fomos parar na delegacia”, lembra o artista.

Foram liberados depois de três horas. Mas ainda viriam mais problemas pela frente: sem dinheiro para pagar o ônibus, os dois tiveram que andar por mais de duas horas da delegacia, na Boca do Rio, até chegar em casa. E SuperAfro ainda ouviu uma bronca da mãe, Dona Marluce, pois um vizinho já havia adiantado para ela que os amigos haviam sido detidos.

“Minha mãe sabia que eu grafitava e até me apoiava, mas tinha receio porque não sabia como eu poderia ganhar dinheiro com aquilo. Aí, quando decidi fazer vestibular para a Escola de Belas Artes, ela viu que era sério e ficou muito feliz”, lembra-se.

SuperAfro conciliava a faculdade com os estágios que conseguia, como um que teve numa galeria de arte no Pelourinho. Levou sete anos para se formar, principalm­ente por causa da dificuldad­e financeira e de transporte.

Mas Fábio fez questão de terminar a graduação e reconhece a importânci­a da faculdade para a sua formação. Ali, conheceu a obra de pintores que lhe marcaram, especialme­nte pelo uso das cores, como Picasso, Van Gogh e Kandinsky. “Às vezes, eu não estudava exatamente o pintor, mas estudava aquilo que ele havia estudado”, lembra.

Embora às vezes ganhe algum dinheiro com as telas ou trabalhos em murais, SuperAfro se sustenta com as tatuagens. Ele tem um estúdio em Itapuã. “É difícil viver exclusivam­ente de arte. E a tatuagem, além de me proporcion­ar uma renda, me realiza também como artista”, assegura.

E, se depender dele, suas criações vão se espalhar pelo país. Graças às amizades que fez por causa do grafite, SuperAfro não descarta passar umas temporadas em outras cidades. Em breve, vai espalhar alguns trabalhos em colagem pelos muros de Salvador.

Exposição Depois Há Margem

Artista SuperAfro

Local Galeria de Arte da Acbeu (Corredor da Vitória)

Visitação até 30 de setembro. De segunda a sexta, das 14h às 20h, e sábados, das 9h às 13h

Ingresso Grátis

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